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Comissão da Alece cobra ampliação e melhorias no atendimento de pessoas com obesidade no CE

Por Juliana Melo
09/06/2025 18:55 | Atualizado há 1 dia

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- Foto: Máximo Moura

Nesta segunda-feira (09/06), a Comissão de Previdência Social e Saúde (CPSS) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) se reuniu com profissionais da saúde e representantes da sociedade civil para tratar sobre os protocolos de prevenção, diagnóstico e tratamentos para obesidade no Ceará, além da oferta de medicamentos e de cirurgias bariátricas no estado. 

O debate foi realizado por iniciativa do deputado Simão Pedro (PSD), que relatou que entende o tema por ter feito tratamento para obesidade e que teve problemas de saúde em decorrência do sobrepeso, como hipertensão e dificuldades para dormir. Ele informou que, após tratamento, conseguiu emagrecer e superar esses problemas de saúde. “Tive atendimento na rede privada e é muito caro. Mas a maioria das pessoas não tem. Por isso estamos aqui para olhar para quem não tem esse acesso”, pontuou. 

O parlamentar defendeu que o estado precisa aumentar a oferta de cirurgias bariátricas e o atendimento nos hospitais públicos. Ele frisou a importância de melhorar a prevenção e que o trabalho dos agentes de saúde dos municípios pode ser uma boa opção para monitorar casos de obesidade infantil e criar um alerta no sistema de saúde. 

Simão Pedro informou que formará uma comissão para realizar uma reunião com a secretária de Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, para tratar sobre as demandas apresentadas. Ele sugeriu também que os municípios tenham equipamentos adaptados para que pessoas com obesidade possam ter acesso a todo tipo de exames e atendimentos em saúde. E propôs ainda a realização de cursos de capacitação para profissionais de saúde com apoio do Unipace e secretarias de Saúde. “É muito importante capacitar as pessoas. Muitas vezes o obeso tem vergonha de sair de casa. Chega numa unidade e há pessoas que não estão capacitadas para receber e acolher. Além da questão psicológica", assinalou. 

Segundo a presidente do Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, Vanessa Pirolo, Fortaleza é uma das capitais que têm mais obesos no Brasil ,e enfatizou que falta protocolo medicamentoso no país para tratar pessoas com obesidade. “A obesidade é a única doença crônica sem medicamento no SUS”, informou.

Vanessa Pirolo explicou que está aberta uma consulta pública para que a população opine sobre a inclusão da Semaglutida no tratamento de pacientes com obesidade graus II e III, sem diabetes, com idade a partir de 45 anos e com doença cardiovascular. Ela sugeriu que a população se manifeste sobre o tema para ajudar a incluir o tratamento com a medicação pelo Sistema Único de Saúde. 

A ativista cobrou que seja estabelecido um protocolo medicamentoso de tratamento para obesidade, ampliação do número de cirurgias bariátricas, oferta adequada de suplemento e acompanhamento multidisciplinar após a bariátrica, além de protocolo específico de tratamento obesidade infantil.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Paulo Campelo, frisou que existem mais 220 doenças relacionadas à obesidade, sendo 13 tipos de cânceres nessa lista. E ressaltou o aumento da obesidade no Brasil: de 11,8% da população, em 2006, para 20,3%, em 2019. Em 2023, atingiu 24,3% da população, sendo encontrada em 23,8% dos homens e em 24.8% das mulheres brasileiras. Em Fortaleza, registros de 2023 apontam que 18,9% dos homens e 20,9% das mulheres têm obesidade.

O médico chamou atenção para o baixo número de cirurgias bariátricas realizadas na Capital: apenas quatro hospitais realizam pouco mais de 20 cirurgias por mês. Enquanto um único hospital do Crato realiza seis cirurgias bariátricas por semana. 

Ele propôs a ampliação regionalizada dos atendimentos com equipes multidisciplinares e oferta de medicamentos, fortalecimento da educação para combater os estigmas sobre obesidade, incentivo à prática de atividade física e à alimentação saudável, ampliação do número de cirurgias bariátricas e contratualização de cirurgias em hospitais particulares. 

 

Segundo a Presidente da Associação Cearense de Diabéticos e Hipertensos, Natasha Alencar, a fila pela cirurgia bariátrica chega a 10 mil pacientes no Ceará e contrasta com o baixíssimo número de pessoas operadas no estado. Ela cobrou que o Hospital da Uece tenha uma ala dedicada ao tratamento da obesidade e que parte dos recursos que sejam destinados a esse equipamento seja destinado a esse atendimento. 

Já a representante do Instituto de Obesidade do Brasil, Andrea Levy, reforçou que o acesso ao tratamento, à cirurgia e ao tratamento no após operatório pode salvar muitas vidas. E acrescentou que “sem acompanhamento pós-cirúrgico o emagrecimento pode acabar desnutrindo o paciente”.

Ela recomendou que seja reforçado o financiamento para tratar precocemente, atualizar as diretrizes de tratamento, melhorar a formação de profissionais da saúde. "A gordofobia precisa acabar! Que comece em nós, profissionais de saúde, nos legisladores e quem trata de políticas publicas". 

A representante do Voz do Paciente, Beatriz Libonatti, confirmou que há casos de preconceitos com pacientes com obesidade. Ela relatou que dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental demonstram que mais de 60% dos pacientes dizem ter sofrido constrangimento em consultas médicas. O mesmo percentual de pessoas com obesidade apresenta algum distúrbio psiquiátrico, como depressão e compulsão alimentar. 

De acordo com a coordenadora geral da Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Carmem Moura, todas as ações sugeridas são discutidas no Ministério. Ela citou que, em 2020, foi publicado um protocolo de diretrizes clínicas e terapêuticas, “é ele que nos dá o norte para as ações serem realizadas no SUS, então as autorizações para procedimentos, tudo isso está previsto hoje no protocolo de diretrizes clínicas”, pontuou. 

Ela informou que há pedidos de incorporação de medicamentos e que há ações que visam diminuir as filas de cirurgias bariátricas. “Também temos o programa Saúde na Escola, que visa instituir ações de prevenção da obesidade, principalmente em crianças e adolescentes, para que possam se tornar adultos saudáveis”, informou. 

A representante da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, médica Rachel Pessoa de Carvalho, também ressaltou o programa Saúde na Escola, que é uma ação intersetorial, para as crianças em idade escolar e declarou que o estado do Ceará monitora esse crescimento da obesidade e das doenças que são consequência do sobrepeso. 

Também participaram a audiência pública a deputada federal Fernanda Pessoa (União); secretária municipal de Saúde de Fortaleza, Riane Azevedo; representante das secretarias municipais de saúde do Ceará, João de Castro; diretor da Escola de Saúde Pública, Danilo Lopes; representante Conselho Estadual de Saúde do Ceará (Cesau), Aldivan Dias de Oliveira; represente do Ministério da Saúde, Tayana Pinheiro; vereador de Juazeiro Do Norte Vinícius Duarte (PSD).

Acompanhe abaixo a íntegra da audiência

Edição: Clara Guimarães

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