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Debate sobre museologia social marca último dia do seminário Novembro no Malce

Por Pedro Emmanuel Goes
18/11/2024 18:27 | Atualizado há 4 dias

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João do Cumbe, historiador e liderança quilombola; Miguel Rodrigues, curador do Malce e Suzenalzon Kanindé, mestre em Humanidades pela Unilab e doutorando em História Social pela UFC, abriram os debates. - Foto: Dário Gabriel

Na tarde desta segunda-feira (18/11), foi realizada a segunda e última rodada dos seminários de formação museal "Novembro no Malce: Memórias, educação e sociedade", promovido pelo Memorial da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará Deputado Pontes Neto (Malce). Os debates do dia destacaram novas perspectivas museais, enfatizando as experiências dos povos tradicionais na construção de uma “museologia social”. 

O objetivo do seminário, conforme o orientador da Célula Educativa do Malce, Mateus Leitão, é despertar uma compreensão maior sobre questões como memória e cultura. “Faz parte das atribuições do Malce promover esse tipo de debate ou formações, assim como faz por meio do projeto O Parlamento e sua História. A ideia é gerar uma maior valorização em relação à memória, à cultura, ao patrimônio, aos ambientes de museus e espaços que funcionam como museus, caso dos memoriais”, afirmou.

A primeira mesa do dia teve o tema “Museus e Contracolonialidade” e contou com a participação do mestre em Humanidades pela Unilab e doutorando em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC) Suzenalzon Kanindé, e do historiador e liderança quilombola João do Cumbe. 

Suzenalson Kanindé destacou a iniciativa do Malce ao promover eventos que envolvam as populações em sua própria historicidade. Ele trouxe experiências museais protagonizadas por comunidades tradicionais cearenses e frisou a importância dos museus na construção das narrativas dos povos tradicionais como meio de resistência. 

“São experiências que dão voz a essas populações, visibilidade, além de traduzir outras perspectivas que incluem as narrativas dos povos tradicionais, reconhecendo suas trajetórias e contribuição dentro da própria construção da história”, disse. 

A museologia social, conforme João do Cumbe,  rompe a forma tradicional de pensar a história, a cultura e os saberes dos povos e comunidades tradicionais. Para ele, é preciso ressignificar o entendimento que se tem estabelecido sobre museus, e a museologia social parte de uma perspectiva que atende a demanda dos povos e comunidades tradicionais. 

A prática, ainda de acordo com João, é uma estratégia de luta política para afirmação das diversas identidades. “Encontramos na museologia social questões importantes que vão dialogar com os diferentes saberes e modos de fazer existente em cada comunidade, em cada lugar; os usos que essa comunidade, que o seu povo faz do território. Nesse sentido, nós, lá do Quilombo do Cumbe, pensamos a museologia social a partir do território, entendendo o território como um museu a céu aberto. Assim, vamos trabalhar o processo de patrimonialização, que engloba as questões dos bens naturais importantes para a nossa existência e permanência no território”, explicou.

 

A educadora Cícera Barbosa; Francisca Sena, da Rede de Mulheres Negras do Ceará; Mateus Leitão, orientador da Célula Educativa do Malce, e educador Hilário Ferreira. Foto: Dário Gabriel.

Entre os presentes estava a estudante do curso de História da UFC Larissa Sousa, que elogiou a iniciativa do Malce e ressaltou a importância de expandir esse debate para fora da Academia. 

“É preciso levar esses debates para outros espaços, para que as pessoas participem e conheçam as possibilidades. Um tema como esse apresentado aqui hoje é de fundamental importância para reforçar a nossa sensação de pertencimento, e as experiências apresentadas nos mostram o que podemos fazer ou inspirar uma ideia inicial para novas práticas comunitárias”, defendeu.

A mesa de encerramento teve como tema  "Abolição Inacabada - Lutas Negras, Política Cearense e Abolicionismo". Os educadores Hilário Ferreira e Cícera Barbosa, além de Francisca Sena, que é membro da Rede de Mulheres Negras do Ceará, falaram sobre as lutas abolicionistas no Ceará, destacando seus atores, além das formas atuais de escravismo.

 

Edição: Clara Guimarães

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