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Frei Xavier compartilha convivência com Frei Tito na França em evento na Alece

Por Lincoln Vieira
28/01/2025 13:59 | Atualizado há 4 meses

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Frei Xavier fala para público os momentos que dividiu com Frei Tito na França. - Foto: Marcos Moura

A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), por meio da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) e Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar, recebeu o frade dominicano Frei Xavier Plassat, que conviveu com Frei Tito durante o exílio do mártir cearense na França. O encontro aconteceu na última sexta-feira (24/01), no Anexo III da Alece e contou com apoio do Ministério Público do Trabalho do Ceará (MPT-CE).

A agenda fez parte do evento “Diálogo sobre Memória, Verdade, Justiça e Reparação. Resistir à opressão: um testemunho de Frei Xavier sobre Frei Tito”, que contou com depoimento público do frade dominicano, Frei Xavier. A mediação foi feita pelo deputado Renato Roseno (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Alece e do Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA). 

De acordo com o parlamentar, as políticas de memória ainda enfrentam resistência do poder público no Brasil. O deputado ressalta a obrigação dos defensores da democracia de enfrentar a memória, o passado e, em especial, a ditadura militar. 

"Foi um depoimento público que inaugura os 25 anos do Escritório Frei Tito, é uma homenagem a ele (Frei Tito In Memoriam), porque nós lutamos por memória, porque nos dá sentido a vida. Nós lutamos por verdade, porque há muito a ser revelado à sociedade brasileira", salientou.

No depoimento, o Frei Xavier Plassat, que é membro da Comissão Pastoral da Terra no Brasil, uma entidade que luta contra o trabalho escravo, relembrou sua convivência com Frei Tito. Segundo ele, Frei Tito de Alencar chegou à França, em 1973, após ter sido expulso do Brasil em troca da vida de um embaixador sequestrado e 69 presos políticos pela ditadura militar.  

O frade contou que presenciou momentos em que Frei Tito apresentou vulnerabilidade psiquiátrica, como "ouvir vozes de pessoas sendo torturadas" em consequência da tortura sofrida por Frei Tito ainda no Brasil. "Nós estivemos em uma sala de hospital psiquiátrico e o Tito estava de braços abertos como se fosse uma cruz, dizendo que estava pronto e que podiam matá-lo. Infelizmente, foi assim que eu presenciei, pela primeira vez, a profundidade terrível e o pavor aterrorizante que Tito vivenciou", relatou. 

A sobrinha de Frei Tito, Lucia Alencar, frisou que a não discussão da memória, verdade, justiça e reparação resultou em uma cultura da violência no País. Conforme ela, as pessoas tratam a violência como “natural” e, ainda, que o Brasil não contou com uma justiça de transição para responsabilizar os torturadores. "As pessoas acostumaram, a violência é natural, as mesmas torturas que aconteciam na ditadura civil militar acontecem hoje, por isso, eventos como esse servem para afirmar que o fato existiu e a tortura é um crime", afirmou. 

A procuradora do Ministério Público do Trabalho do Ceará (MPT-CE), Christiane Nogueira, disse que o órgão conta com um grupo de trabalho intitulado "GT Justiça de Transição". Christiane asseverou que o grupo foi criado junto a uma empresa de automóveis devido à "contribuição com a ditadura civil militar" através da disponibilização de um quarto onde os trabalhadores ficavam presos. "Por isso, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que destinou dez grupos de pesquisas para avaliar a contribuição de dez empresas junto à ditadura e, a partir disso, foram abertos dois inquéritos civis no MPT-CE e no MPF-CE", explicou. 

O encontro contou ainda com a presença da ex-prefeita de Fortaleza, Maria Luíza Fontenele; da irmã de Frei Tito, a senhora Nildes Alencar; da sobrinha de Frei Tito, Lúcia Alencar; além de grupos de direitos humanos e professores universitários e da escola pública, entre outros. 

Foto: Marcos Moura

HISTÓRICO

Frei Xavier tornou-se amigo de Frei Tito de Alencar Lima quando este estava exilado na França, no convento dominicano em L'Arbresle. Após a morte de Frei Tito, em 1983, coube a Frei Xavier o translado dos restos mortais do amigo ao Brasil.

Em 1989, Frei Xavier estabeleceu-se no Brasil a serviço da Comissão Pastoral da Terra. Desde 1997, dedica-se à Campanha pela Erradicação do Trabalho Escravo no Campo, que rendeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, em 2006, e o Prêmio Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2008.

Em 2009, Frei Xavier foi homenageado pela Embaixada da França no Brasil, juntamente com Frei Henri des Roziers e Frei Jean Raguénès pela luta pelos direitos humanos.

Confira na íntegra a transmissão do evento:

 

Edição: Vandecy Dourado

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