Seminário Ciadi apresenta palestras e rodas de conversa sobre TEA
Por Ariadne Sousa / Geimison Maia05/04/2023 18:02 | Atualizado há 4 dias
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O “Seminário Ciadi Autismo - Mais Informação, Menos Preconceito”, realizado pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), prosseguiu na tarde desta quarta-feira (05/04) com apresentação de duas palestras abordando os sinais para diagnóstico e as vivências das pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e com rodas de conversas com familiares de autistas e pessoas com transtorno do espectro autista.
A primeira-dama da Alece, Cristiane Leitão, ressaltou a importância das ações voltadas à inclusão e à conscientização. “Precisamos realmente incluir todas essas pessoas, elas precisam sentir o amor, acolhimento e a humanização da nossa sociedade. É a partir da inclusão que eles vão poder ter o desenvolvimento que todos merecem ter”, disse a primeira-dama.
Já a deputada Luana Ribeiro (Cidadania) comentou sobre sua atuação no desenvolvimento de projetos para pessoas com TEA na cidade de Cascavel, da qual ela é primeira-dama. “Dizer que a conscientização tem que estar numa esfera maior. Eu sempre digo que, quando nasce um autista, nasce uma família autista”, comentou.
A primeira-dama do Estado, Lia de Freitas, também prestigiou o evento. Ela ressaltou que o Governo do Estado está de portas abertas para ações de inclusão. “É muito importante conscientizar e celebrar esses momentos de autoafirmação e de luta por mais inclusão”, comentou. Ela ainda apresentou diversas iniciativas nesse sentido, como capacitação de professores pela Secretaria da Educação para lidar com estudantes com TEA, a existência de núcleos de estimulação precoce, o atendimento especializado em instituições como o Hospital Albert Sabin e o treinamento de profissionais da Secretaria da Proteção Social para atender, nos equipamentos da pasta, famílias com crianças autistas.
A abertura contou ainda com uma apresentação do grupo “Bó Contá”, composto por profissionais das artes cênicas, que exibiu uma performance lúdica, com o envolvimento de música e participação da plateia.
A primeira palestra, realizada de forma virtual, teve como temática a identificação do autismo nas diferentes fases da vida, com apresentação de Thiago Araújo Lopes, doutor em Psicologia e especialista em Autismo e Transtornos do Desenvolvimento.
O palestrante explicou que os sintomas e sinais do autismo, sejam eles sutis ou bem aparentes, mudam ao longo de cada fase da vida. “Quando eu estou olhando uma criança de dois ou três anos, às vezes eu vou ter mais os sinais clássicos, como andar na ponta do pé ou girar em torno de si mesma. Já em adultos, geralmente os sinais são muito mais sutis”, esclareceu.
Ele explica que o atraso no diagnóstico representa também um retardamento do tratamento, e um dos fatores que contribuem para isso é a falta de preparo específico para análise, além dos tempos reduzidos das consultas médicas. “Muitas vezes o médico que vai fazer a avaliação não tem aquele nível de refinamento para perceber indicações mais sutis”, afirmou.
Thiago Araújo contou ainda que existem instrumentos que podem ajudar tanto os profissionais quanto os pais a identificarem sinais de alerta. Questionários que apresentam uma escala de risco são algumas das ferramentas apresentadas. Neles são levantados alguns questionamentos padrão e, a partir da somatória final, é possível ter uma noção de indicativo ou não do TEA. O palestrante alerta que a análise apresenta uma suspeita, e não um diagnóstico.
RODAS DE CONVERSAS
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Rodas de Conversas reúnem familiares e pessoas com TEA - Foto: Marcos Moura
Após a palestra, foram realizadas duas rodas de conversa. A primeira foi com mães de autistas, que falaram um pouco sobre a experiência de terem os filhos diagnosticados com TEA. A jornalista Helaine Oliveira, mãe de João Roberto de Oliveira Leite, disse como identificou os primeiros sinais de autismo no filho e abordou as dificuldades enfrentadas para encontrar profissionais especializados. “Quando recebi o diagnóstico, visualmente falando, é como se (antes) tivesse uma estrada que não sabia para onde ir e alguém ligou a luz”, lembrou.
Depois, Helaine criou um blog para compartilhar as experiências com o filho e ajudar outras famílias, mas ressaltou que cada caso é único e, por isso, “não há uma receita de bolo”. Ela ainda enfatizou a necessidade de os pais se cuidarem e buscarem apoio com terapeutas, por exemplo. “Eu preciso cuidar de mim para poder cuidar dele”, orientou.
Outra mãe que compartilhou as vivências foi Ana Luiza Cruz Oria, mãe de Pedro Oria Guedes. Ela narrou que, entre os primeiros sinais, estava o atraso no desenvolvimento na fala do filho. “Sou fisioterapeuta e tive certa dificuldade de iniciar essa trajetória (de tratamento) do Pedro”, reconheceu. Além disso, ela lamentou as dificuldades de inclusão escolar das crianças com TEA, sendo, no caso dela, necessário visitar nove escolas até que uma recebesse o garoto, que hoje tem 15 anos. “A sociedade precisa acolher melhor essas crianças e jovens adultos” defendeu.
E a última mãe a participar da roda de conversa, Waleska Aragão, mãe de Filipe Alves, descreveu que a observação dos primeiros sintomas dele se deu em comparação ao desenvolvimento do filho mais velho. “Comecei a perceber que, ao chegar próximo dos dois anos, ele não conseguia formular nenhuma frase, era muito alheio”, contou. Atualmente ele é atendido pelo Ciadi, e Waleska comemorou o fato de hoje “ele estar se desenvolvendo bem”.
Pessoas com TEA falam sobre suas vivências - Foto: Marcos Moura
Em seguida, foi realizado um bate-papo com adultos diagnosticados com TEA. O estudante de Ciências Contábeis do IFCE Nicolas Gabriel Santana Silva abordou as dificuldades que teve ao longo da vida, em especial a de se expressar quando criança. Ele ainda falou sobre a importância do apoio que recebeu desde o início na instituição onde estuda. “Quando cheguei na faculdade, fui bem recebido, e muitas pessoas me ampararam”, elogiou. Além disso, ele compartilhou a importância da compreensão que tem tido dos colegas, que o ajudam em momentos de crise e para recuperar algum conteúdo perdido em sala de aula.
Outra que compartilhou suas impressões foi a psicopedagoga Michelle Páscoa. O diagnóstico dela veio tardiamente, aos 36 anos, após realizar a adoção dos três filhos e perceber que tinha dificuldades em alguns aspectos da socialização com eles. Ela ainda estimulou os pais a acreditarem na capacidade dos filhos com TEA quando chegarem na vida adulta: “existe uma Michelle que é muito potente, brilhante (...) e tenho forte senso de justiça. Isso me levou a desenvolver grandes projetos e chegar a lugares que nunca imaginei”. Hoje ela milita pela causa da adoção e trabalha com crianças autistas, ajudando no desenvolvimento das habilidades sociais.
E o musicoterapeuta Glairton Santiago, que também teve um diagnóstico tardio, começou a perceber os sintomas ao trabalhar com o desenvolvimento de crianças com TEA. “O processo do diagnóstico foi importantíssimo, porque a gente passa a se entender melhor”, explicou. Ele ressaltou também a necessidade de inclusão, de compreensão por parte da sociedade e de criação de uma rede de apoio aos autistas.
Ao final do evento, foi realizada uma apresentação musical de Léo Araújo com crianças atendidas pelo Ciadi e lançado o livro “Autismo: Da janela para o mundo”, de Jacqueline Aragão.
Edição: Clara Guimarães
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