Pesquisa sobre economia do cuidado é apresentada durante audiência pública na Alece
Por Juliana Melo30/06/2025 18:05 | Atualizado há 5 horas
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Os resultados preliminares da pesquisa “O trabalho de cuidado nas comunidades de Fortaleza, o retrato do São João do Tauape” foram apresentados na tarde desta segunda-feira (30/06), durante audiência pública realizada pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece).
A pesquisa é fruto de parceria entre a Secretaria do Trabalho do Estado do Ceará, da Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do Programa Cientista Chefe, e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
A reunião foi realizada por iniciativa do deputado Guilherme Sampaio (PT), que destacou a importância da economia do cuidado, embora não sejam reconhecidas essas contribuições. O parlamentar frisou que a maioria desses trabalhadores não recebe remuneração. “Hoje nós estamos aqui para dar visibilidade a essas mulheres e para reconhecer o trabalho de cuidado desenvolvido cotidianamente”, explicou.
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Deputado Guilherme Sampaio (PT) defendeu a importância de estudos sobre sobre a economia do cuidado - Foto: Pedro Albuquerque / Alece
Guilherme Sampaio elogiou a realização da pesquisa e ressaltou que ela possibilita criar embasamento para a formação de políticas públicas. O parlamentar informou que a pesquisa deverá ser expandida para os bairros da Grande Bom Jardim, Grande Messejana e Barra do Ceará.
Ele citou ainda três iniciativas que estão tramitando na Alece, com base nesse conhecimento que estava sendo produzido: os projetos de indicação nº 101/2025, que propõe formação de cuidadores domiciliares no Ceará, e nº 102/2025, que cria o Ceará Cuida, inspirado em legislação já em vigor no Uruguai, que fornece apoio ao serviço domiciliar; além do projeto de lei nº 370/2024, que institui a política de cuidados no Estado do Ceará.
Segundo a professora doutora Ana Maria Fontenele, uma das responsáveis pela pesquisa, é essencial conhecer a realidade de quem está na linha de frente do cuidado. "O cuidado, quando ele não aparece nas estatísticas, também não aparece nas prioridades", alertou.
Ela esclareceu que foi traçado um retrato das pessoas que dedicam suas vidas ao cuidado: quem são, como vivem, quais os desafios e necessidade, além de sugerir políticas públicas a partir das experiências reais encontradas.
A professora detalhou que foram aplicados questionários em 145 famílias que vivem na área do São João do Tauape, abrangendo o Lagamar e o Alto da Balança. O questionário foi dividido em quatro blocos que abordaram: características do cuidador; impactos na saúde do trabalhador do cuidado; soluções e alternativas para melhor viabilizar o cuidado; e sobre as características do cuidado ofertado.
Entre os aspectos constatados, a pesquisadora frisou que predomina o trabalho sem remuneração e que o perfil das pessoas cuidadas é, basicamente, adolescentes, idosos, crianças, pessoas com deficiência temporária ou prolongada. Ela relatou que as pessoas que realizam esse trabalho declaram que não tiveram outra opção. "Está mais presente a ‘escravidão’ do que a escolha", ressaltou.
Segundo segundo o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan), Artur Bruno, dados recentes mostram que o Ceará é o terceiro pior em quantidade de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e que os cuidadores, muitas vezes, fazem parte desse grupo. “É urgente que o poder público municipal tenha políticas públicas. Precisamos envolver várias áreas, desde saúde, emprego e renda e previdência. Reunir órgãos para entender como avançar no tema e cuidar dos cuidadores”, avaliou.
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Secretário do Trabalho do Estado do Ceará, Vladyson Viana avaliou ser necessário incluir dados sobre trabalho do cuidado nas estatísticas sobre emprego - Foto: Pedro Albuquerque / Alece
O secretário do Trabalho do Estado do Ceará, Vladyson Viana, comentou que os indicadores que tratam sobre emprego não incluem os dados do trabalho de cuidado e que isso deve ser repensado. Ele informou também que a expectativa é que a pesquisa seja ampliada com apoio do Governo do Estado.
Representando as comunidades pesquisadas, a moradora Ana do Lagamar agradeceu ao deputado Guilherme Sampaio pelo apoio à pesquisa e homenageou as cuidadoras e cuidadores das periferias de Fortaleza. Ela relatou que foi cuidadora do marido e que essa função requer muitos sacrifícios.
“Ao mesmo tempo que você está propiciando o atendimento às necessidade de uma pessoa que depende de você, você está também garantindo que ela viva. É o sentimento de que a vida vale", concluiu.
A cientista chefe da Secretaria do Trabalho do Estado do Ceará, professora Jaqueline Franco, descreveu o trabalho como uma pesquisa inovadora. Ela acrescentou que os resultados abrem perspectivas transformadoras em termos de políticas públicas nesse segmento do mundo do trabalho. “A economia do cuidado, por vezes negligenciada e subvalorizada, revela-se de crucial importância para o bem-estar e para a própria vida”, pontuou.
O presidente da Funcap, professor Raimundo Costa, destacou que a pesquisa foi realizada por meio do programa Cientista Chefe, do Governo do Estado, e que levantar essas informações é essencial. "Ciência é também entender o outro e a sociedade onde vivemos", defendeu.
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A cientista chefe da Secretaria do Trabalho do Estado do Ceará, professora Jaqueline Franco, avaliou os resultados do estudo - Foto: Pedro Albuquerque / Alece
DADOS DA PESQUISA
Entre os dados apresentados durante o debate está o perfil do cuidador encontrado na região pesquisada: 94,88% são mulheres e 6,12% são homens. Das cuidadoras, 86,46% são mulheres negras e 54,13% dessas mulheres assumem sozinhas esse trabalho de cuidados; 64% das cuidadoras têm entre 30 e 59 anos e 27,45% têm mais de 60 anos de idade.
Dos cuidadores como um todo, 34,5% recebem Bolsa Família, 80,98% não exercem nenhuma atividade profissional remunerada e 87,7% deles não recebem nenhuma remuneração pelo trabalho de cuidado, sendo que 82,31% até gastam para realizar o trabalho de cuidado, em despesas com remédio, alimentação, etc.
Quanto ao número de pessoas assistidas, 45% dos cuidadores cuidam de uma pessoa; já 28,2% cuidam de duas pessoas; 18,3% cuidam de três pessoas; 5,6% cuidam de quatro pessoas e 2,8% cuidam de cinco ou mais pessoas.
Sobre os assistidos, 46,66% não têm autonomia para realizar cuidados pessoais e 82,59% demandam mais de oito horas de cuidado.
A pesquisa revela ainda que apenas 13% desses cuidadores são cuidadores profissionais; porém, quase 80% deles tem um contrato informal/verbal com o contratante.
A maioria dos assistidos são crianças e adolescentes: 49,3% têm de 0 a 10 anos; 16,7% têm entre 11 e 17 anos. Os idosos de 71 a 90 anos são 13,7%; 6,7% têm de 51 a 70 anos; e 2,2% têm mais de 90 anos.
Sobre o impacto do trabalho de cuidado na saúde dos cuidadores, os pesquisadores informaram que 63,95% dizem ter adoecido nos últimos 12 meses. Apesar disso, 75,5% deles não se ausentaram da função de cuidar. E 53% dos cuidadores afirmam apresentar sintomas de doença mental nos últimos 12 meses e16,36% sofreram algum tipo de acidente durante o trabalho e também permaneceram em atividade.
Os dados também mostram o impacto na vida profissional: 41,5% tiveram que parar total ou parcialmente de trabalhar; e 45,58% precisaram reduzir suas horas de trabalho. Já 50% relatam que não possuem projetos pessoais ativos e não têm esperança sobre o futuro.
Também participaram do debate a coordenadora geral das regionais de Saúde, Munique Mendes Carneiro Alves; representando a Coordenadoria Regional de Saúde II, Rose Magalhães; a secretária executiva dos Direitos Humanos, Rhayana Ferreira Pimentel; a pesquisadora Carolina Cidrini de Paula Cavalcanti; o economista Levi Silva Morais; a representante da Coordenadoria Especial da Primeira Infância, Lara Lobo; e o vereador de Fortaleza Vicente Pinto (PT).
Confira a íntegra da audiência pública:
Edição: Geimison Maia
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