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Audiência na Alece propõe criação de grupos de trabalho para fortalecimento de rede de proteção às crianças e adolescentes

Por Pedro Emmanuel Goes
30/05/2025 17:42 | Atualizado há 1 dia

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- Foto: Dário Gabriel

Articular as demandas da rede de proteção à criança e ao adolescente em situação de violência sexual foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) na tarde detsa sexta-feira (30/05). Entre as propostas encaminhadas durante o debate, estão a formação de grupos de trabalho interinstitucionais para tratar do tema de forma contínua.

O deputado Renato Roseno (Psol), que propôs o encontro juntamente com a deputada Luana Régia (Cidadania), explicou que o debate faz alusão ao 18 de maio, Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - campanha que existe há 25 anos. 

O parlamentar informou que um dos principais eixos de luta no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes é a prevenção contra a violência, e o combate à subnotificação. Segundo ele, a estimativa é de que as denúncias que chegam às delegacias formalmente representam apenas um quinto da violência que de fato acontece.

Uma das primeiras questões levantadas foi o orçamento destinado pelos governos às redes de proteção. A vereadora de Fortaleza, Adriana Geronimo (Psol), que preside a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal, chamou atenção para o orçamento destinado ao Programa Rede Aquarela, da prefeitura de Fortaleza, que articula e executa a Política Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Infantojuvenil. De acordo com ela, desde 2023 não há execução do orçamento destinado às formações dos profissionais da área.

Ela explicou que, desde 2018, a previsão orçamentária para a rede tem diminuído, assim como o valor executado todos os anos. Em 2018 houve uma previsão de R$ 1,5 milhão, com apenas 12% desse valor sendo executado naquele ano. Em sete anos, essa previsão caiu anualmente, chegando aos R$ 223 mil em 2023.

“Em 2024, a previsão foi de apenas R$ 300 mil, e apenas 42% foi executado. Quando pensamos em violência contra crianças e adolescentes, temos que perceber que ela é resultado não só  de falhas nas políticas públicas ou de responsabilização dos agressores, mas também da ausência de investimento”, disse, ressaltando que esse investimento deve chegar a todos os órgãos da rede, como os Conselhos Tutelares e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Estes últimos, de acordo com Adriana, estão sem coordenadores na maior parte de suas unidades. 

Outra questão abordada foi a ausência dos Conselhos de Proteção nas escolas. Segundo Samila Ferreira, representante do Fórum de Defesa da Criança e do Adolescente (Fórum DCA), muitas escolas só dispõe do conselho de proteção no papel, não funcionando na prática. 

Ela também apresentou algumas propostas que mantêm a discussão sobre a defesa das crianças e adolescentes de forma continuada entre os órgãos de proteção. Entre elas, a instituição de campanhas de conscientização permanente e unificada com participação de secretarias de governos estratégicas; a instalação de uma comissão especial nas câmaras representativas para investigar os crimes de exploração sexual contra crianças e adolescentes; e a realização de concursos públicos para formação de equipes especializadas nos órgãos que compõem a rede de proteção. 

Representando o Coletivo Égide e o Projeto Elos de Proteção, Mário Robério Sólon, também levantou a necessidade de dados atualizados por parte dos órgãos de governo que atuam na defesa de crianças e adolescentes, assim como melhor atendimento por parte dos órgãos que realizam atendimentos junto às vítimas, como a Perícia Forense do Estado do Ceará. Ele também criticou a rotatividade de profissionais nos órgãos, especialmente da prefeitura, situação que impossibilita o acompanhamento pleno das vítimas. 

Delegado Demitri Cruz, da Dceca, aponta gargalo na politica de notificações dos casos de violência. Foto: Dário Gabriel

Representando a Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca), o delegado Demitri Cruz explicou que no Ceará há um avanço em relação ao Brasil no que diz respeito às políticas de defesa das crianças e adolescentes e combate à violência sexual. Ele explicou, entretanto, que há um gargalo na política de notificações que se diferencia nas esferas pública e privada. 

“É preciso convidar as representações da esfera privada para debater com mais profundidade, visto que esta realidade se sobressai de maneira ainda muito frágil, especialmente nos equipamentos de saúde e educação, e sabemos que este tipo de crime não tem recorte de classe”, disse. 

Ele também mencionou as limitações que o sistema de segurança pública enfrenta na responsabilização dos agressores, mas reforçou que órgãos e entidades de defesa devem manter o trabalho de “disseminar” a experiência, para que a rede de proteção cresça e se fortaleça. 

A coordenadora auxiliar do Centro de Apoio Operacional da Infância e da Juventude (CAOPIJ) do Ministério Público, Cibelle Nunes de Carvalho, explicou que o órgão tem realizado capacitações em escuta ativa com profissionais da assistência social. O objetivo, segundo ela, é que cada comarca do MP nos municípios do Interior tenha um técnico especializado neste tipo de atendimento. 

Ela também reforçou a importância de os órgãos de proteção atuarem em rede, assim como a necessidade de um comitê ou grupo em que estudos e discussões sobre o tema sejam realizados durante todo o ano, com apresentação de pesquisas, dados e resultados. 

Além destes, estiveram presentes representantes da Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e Adolescentes (Cedeca), do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca), da Comissão Especial de Defesa do Direito das Crianças e Adolescentes da OAB-CE, do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (Comdica), da Fundação da Criança e Família Cidadã, e da Casa da Criança. 

Acompanhe a íntegra da audiência pública abaixo:

Edição: Clara Guimarães
 

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