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Combate às desigualdades e prevenção ao HIV marcam Dezembro Vermelho

Por ALECE
13/12/2022 17:14

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Quanta coisa pode mudar em 40 anos? Os primeiros casos de HIV foram registrados no mundo há pouco mais de quatro décadas e, ao longo desse tempo, o conhecimento sobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) avançou muito.

Tais avanços das pesquisas permitiram que o diagnóstico fosse mais rápido e acessível, os tratamentos mais eficientes e com menos efeitos colaterais e a qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV pudesse ser garantida.

No entanto, esses avanços não chegam a todos. Tal barreira, assim como a falta de sensibilização para a importância da prevenção, questão essencial que tem sido subestimada, são pontos que, entre outros, têm diminuído o progresso global contra o HIV.

As desigualdades impactam, principalmente, os mais vulneráveis e impedem o avanço coletivo da humanidade. Dessa forma, em 2022, o tema do Dia Mundial da Aids (01/12) é “Equidade já”, destacando o desequilíbrio que marca o acesso à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento no mundo.

No Brasil, o mês de dezembro marca uma mobilização nacional de prevenção ao HIV, à Aids e a outras infecções sexualmente transmissíveis. É a campanha Dezembro Vermelho, instituída em 2017 e que, a cada ano, permite que a temática, os dados e as histórias das pessoas que convivem com o HIV fiquem mais presentes para a sociedade de uma forma geral, mesmo que a sensibilização seja imprescindível todos os dias.

IGUALDADE PARA AVANÇAR

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), em 2021, as novas infecções pelo HIV caíram de forma global. No entanto essa redução foi de apenas 3,6% em relação a 2020, número menor do que o esperado e alcançado desde 2016.

Os dados representam pessoas que, diariamente, infectam-se pelo HIV. As estatísticas para 2021 apontavam que mais de 38 milhões de pessoas viviam com HIV em todo o mundo.

Marcando o Dia Mundial da Aids em 2022, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que o mundo se comprometeu a acabar com a Aids até 2030, mas a meta está distante de ser cumprida pelas desigualdades. Ele indicou, entre outros pontos, a necessidade de ampliação do acesso aos serviços adequados e de qualidade, mais recursos financeiros, políticas públicas, legislações, compartilhamento de tecnologias, respeito e inclusão.

Winnie Byanyima, diretora executiva do Unaids, apontou ainda três passos para acabar com a Aids no mundo: garantir a equidade para as mulheres e meninas para reduzir seus riscos para o HIV, garantir equidade para todas as pessoas marginalizadas e oferecer diagnóstico e tratamento para crianças.

NÚMEROS NO BRASIL

Segundo estimativa de 2021 do Ministério da Saúde, 960 mil pessoas estão vivendo com HIV no Brasil e, ano passado, foram detectados 40,8 mil novos casos de HIV e 35,2 mil casos de Aids, respectivamente. O país teria ainda 727 mil pessoas em tratamento.

Boletim divulgado pelo órgão federal aponta ainda uma maior concentração dos casos de Aids em pessoas entre 25 e 39 anos. O documento ressalta que, entre 2011 e 2021, mais de 52 mil jovens entre 15 e 24 anos convivendo com o HIV desenvolveram a Aids, o que reforça a importância da adesão ao tratamento antirretroviral por esse público.

Assim, além da vinculação ao acompanhamento disponível, há um destaque para a necessidade de fazer chegar aos jovens informações sobre métodos combinados de prevenção e testagem regular, aponta o Ministério da Saúde. A campanha federal em 2022 tem como tema "Quanto mais combinado, melhor!".

NÚMEROS NO CEARÁ

De 2018 a 2022, o Ceará registrou 9.023 novos casos de HIV. Somente este ano (até o dia 1º de novembro de 2022), foram 1.357 novos registros. Durante o período de 2013 a 2022, o Estado totalizou 15.698 casos de HIV, concentrados, principalmente, na Superintendência Regional de Saúde de Fortaleza.

O boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) aponta que a questão segue sendo um “problema de saúde pública de grande relevância na atualidade, em função do seu caráter pandêmico e de sua transcendência”.

A Sesa elenca ainda as formas principais de transmissão, como “relações sexuais desprotegidas; utilização de sangue ou seus derivados não testados ou não tratados adequadamente; recepção de órgãos ou sêmen de doadores não testados; reutilização e compartilhamento de seringas e agulhas; acidente ocupacional durante a manipulação de instrumentos perfurocortantes contaminados com sangue e secreções de pacientes”.

A DIFERENÇA ENTRE HIV E AIDS

Em uma era de informação rápida, o conhecimento da sociedade sobre muitos assuntos ainda enfrenta ataques perigosos, como o preconceito e a desinformação, um cenário que representa mais uma forma de impedir o avanço.

As siglas HIV e Aids costumam ser vistas juntas, mas são diferentes e devem ser compreendidas a partir dessas diferenças. O HIV é o vírus da imunodeficiência humana, a Aids é a síndrome da imunodeficiência adquirida. As pessoas infectadas com o HIV podem ou não desenvolver a Aids. E muitos fatores estão envolvidos nesse processo. Em todos os casos, o diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento adequados são essenciais e podem garantir saúde, bem-estar e qualidade de vida, direitos que devem ser garantidos a todas as pessoas.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Érico Arruda, infectologista do Hospital São José, explica que o diagnóstico precoce e a realização e manutenção do tratamento são os principais fatores para evitar que a pessoa passe da infecção pelo vírus HIV à manifestação da síndrome da imunodeficiência adquirida, a Aids.

Por isso, quanto mais precoce é o tratamento, menor é o risco de adoecimento e perda de qualidade de vida, assim como é menor a transmissão do vírus HIV. Atualmente, o tratamento antirretroviral, explica o médico, conta com medicações mais simples de administrar, com menos efeitos colaterais ou eventos adversos.

No entanto, a adesão ao tratamento é um desafio mundial, por exigir uma manutenção diária e contínua - como acontece com doenças crônicas. O médico explicita ainda alguns fatores que são importantes para o tratamento, como apoio social, familiar e emocional.

O infectologista explica que, a partir do diagnóstico, as pessoas precisam de cuidados específicos, como exames variados, avaliação da imunidade e da quantidade de vírus (carga viral), para que o profissional da saúde possa indicar a terapia antirretroviral, assim como considerar outros medicamentos necessários para evitar doenças oportunistas, por exemplo.

“Esses exames estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), então o paciente tem acesso a esses exames, assim como ao tratamento, à terapia antirretroviral e a outros medicamentos que podem vir a ser necessários. O paciente precisa ainda manter o uso dessas medicações diariamente e ter avaliações de sua saúde com um profissional duas vezes ao ano”, afirma.

Os serviços de atenção em saúde para pessoas vivendo com HIV/Aids no Ceará estão disponíveis em lista divulgada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O levantamento oferece informações sobre 34 equipamentos, com endereços, contatos, horários de funcionamento e serviços oferecidos em Fortaleza e 21 cidades do interior.

SENSIBILIZAÇÃO E CAPACITAÇÃO

Presidente da Comissão de Seguridade Social e Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, o deputado Guilherme Landim (PDT) afirma que, como médico e parlamentar, vê “o avanço da ciência como um grande estímulo à nossa esperança com relação ao tratamento e cura da Aids”.

No entanto, pondera, dados do Boletim Epidemiológico de 2022, do Ministério da Saúde, apontam para o crescimento do número de jovens infectados com o vírus HIV. E é por isso, afirma, que a conscientização sobre a prevenção do HIV/Aids se faz extremamente necessária.

O parlamentar aponta ainda para a importância de também haver a capacitação constante de uma equipe multiprofissional humanizada e ativa na participação de todo o processo de atendimento, desde a atenção primária até o acompanhamento das testagens regulares, acolhimento e suporte psicológico aos pacientes e familiares.

Esse processo, avalia, colabora para desmistificar o preconceito e ampliar o diálogo “sobre tudo o que envolve a síndrome e o vírus, que são condições diferentes, que devem ser esclarecidas para a população, com o reforço sobre a importância da proteção contra as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) também”.

Esta é a primeira matéria da série de reportagens da Agência de Noticias da Alece sobre o Dezembro Vermelho. Na próxima, será abordado o trabalho de entidades da sociedade de apoio aos portadores do HIV e, em seguida, o depoimento de uma pessoa soropositiva sobre os desafios no convívio com a doença. A série conta com reportagens da jornalista Samaisa dos Anjos e do jornalista Ricardo Garcia e edição da jornalista Clara Guimarães, com imagens do Núcleo de Publicidade da Alece e revisão de texto de Carmem Ciene.

GLOSSÁRIO

PREVENÇÃO COMBINADA DO HIV: Estratégias combinadas de prevenção ao HIV, como uso de preservativo durante as relações sexuais, testagem regular para HIV e IST, diagnóstico e tratamento, PEP, PREP, prevenção da transmissão vertical e tratamento a todas as pessoas vivendo com HIV/Aids.

PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO (PEP) e PRÉ-EXPOSIÇÃO (PREP): Medicamentos antirretrovirais tomados após exposição ou possível exposição ao HIV. Disponível no SUS. Medicamentos antirretrovirais prescritos antes da exposição (ou possível exposição) ao HIV também disponíveis no SUS.

TERAPIA ANTIRRETROVIRAL: Conjunto de medicamentos utilizados no tratamento da infecção causada pelo retrovírus HIV.

TRANSMISSÃO VERTICAL:Transmissão do HIV que ocorre da mãe para o bebê, durante a gestação, o parto ou o aleitamento. Diagnóstico precoce e tratamento auxiliam na prevenção desse tipo de transmissão.

Fontes: UNAIDS, Ministério da Saúde, Sesa

SA/CG

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