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Campanha mira na vacinação contra pólio e previne risco de reintrodução da doença

Por ALECE
30/08/2022 12:33

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- Foto: Arte do Núcleo de publicidade com foto de José Leomar

A Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite para crianças com menos de cinco anos de idade acontece em um momento em que a baixa cobertura vacinal contra a pólio, ou paralisia infantil, tem gerado preocupação quanto ao risco de reintrodução da doença no País.

Na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), parlamentares têm encampado diversos projetos no sentido de estimular a vacinação, não apenas contra o poliovírus, causador da poliomielite, mas também contra outras doenças de caráter controlado no Estado.

SINAL DE ALERTA

A poliomielite é uma doença contagiosa causada por um vírus que vive no intestino e que pode provocar paralisias irreversíveis e até óbitos. A infecção havia sido considerada erradicada no Brasil pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em 1994, mas seu reaparecimento recente em muitos países acendeu um alerta entre as autoridades em saúde.

Segundo dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI)referentes à cobertura vacinal para a poliomielite em 2022, apenas 46% das crianças na faixa etária indicada (até cinco anos incompletos) foram imunizadas em todo o Brasil até o momento.Esses números, inclusive, estão em queda desde 2015.

A virologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) Caroline Florêncio explica que a meta que resguarda a proteção da população contra o poliovírus é de 70% de cobertura ‒ estimativa atualizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) este ano –, mas que a meta considerada “ideal” é de 95%. Ela acrescenta que a baixa na cobertura vacinal, especialmente nos últimos três anos, pode decorrer de diversos fatores. O isolamento e a crise social e econômica acentuada pela pandemia de Covid-19 seriam algumas das possibilidades.

No Ceará, essa redução na proteção é ainda mais acentuada. Os percentuais de proteção caíram de 93% em 2019 para 72% em 2021. Neste ano, a cobertura ainda está em 52%.

Caroline explica que, embora a meta de 70% seja uma marca estabelecida pela OMS, ainda é uma porcentagem inferior à dos anos anteriores e que, mesmo com o Ceará ultrapassando essa marca todos os anos, a cobertura tem diminuído ao longo dos anos na maioria dos municípios cearenses. “É importante perceber que, quanto menor a meta de cobertura, pior é, pois menos pessoas estão protegidas, especialmente aquelas que vivem em locais insalubres, que favorecem o ressurgimento de doenças que, até então, estavam controladas”, aponta.

Sobre a poliomielite, ela informa que muitas mazelas sociais, aliadas à redução das vacinações, favorecem seu ressurgimento, tais como a falta de saneamento básico; a falta de alimentação básica, que leva, por exemplo, pessoas em situação de rua a buscarem restos de comida no lixo, ou ainda a falta de locais adequados para essas pessoas realizarem suas funções fisiológicas, entre outras condições. Para Caroline, essa situação de pobreza foi acentuada pela pandemia de Covid-19, que afetou também a busca das pessoas por vacinas.

No Brasil, duas vacinas diferentes são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para a imunização contra a pólio: a inativada, aplicada por injeção, e a atenuada, em gotas. A primeira deve ser aplicada nos bebês aos 2, 4 e 6 meses de idade. Já o reforço da proteção contra a doença é feito com a vacina atenuada entre os 15 e 18 meses e depois, mais uma vez, entre os 4 e 5 anos de idade.

A aplicação de imunizantes contra muitas doenças, como meningite, rubéola, caxumba e rotavírus, que há muito não são identificadas no Ceará, também está em queda, o que, para Caroline Florêncio, “abre a possibilidade de retorno de todas essas doenças”.

O surto de sarampo ocorrido no Ceará entre 2013 e 2015, quando 916 pessoas foram diagnosticadas com a doença, pode ser usado como exemplo para mostrar como esses surtos ressurgem. Sobre o caso em questão, a pesquisadora lembra que o vírus veio de fora, há anos não era identificado no Estado e encontrou nas áreas de maior suscetibilidade ‒ locais onde a vacina não chegava ‒ o ambiente adequado para propagação. Conforme observa, durante esse surto, os principais atingidos foram crianças de até nove meses, visto que a vacina é ministrada nessa idade.

A virologista reforça ainda a importância da comunicação sobre essa realidade à população. “Uma política de informação, de divulgação desses indicadores, de campanhas, de esclarecimento e de combate às fake newspode fazer com que as pessoas mudem o olhar para a vacina”, sugere.

CAMPANHA MULTIVACINAÇÃO

Paralela à Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite acontece a Campanha Multivacinação para Atualização da Caderneta Vacinal de menores com até 14 anos de idade. O objetivo é regularizar a situação vacinal dessa faixa etária, conforme prevê o Programa Nacional de Imunizações (PNI). A iniciativa, conduzida pelo Ministério da Saúde, vai até o dia 9 de setembro ‒ no dia 20 de agosto de 2022 houve o Dia D de Mobilização Nacional.

Vanessa Soldatelli, coordenadora de imunização da Secretaria de Saúde de Fortaleza, lembra que há outras vacinas importantes e que garantem a proteção das crianças e dos adolescentes de até 14 anos completos. Ela explica que, durante a campanha Multivacinação, imunizações contra o papilomavírus humano (HPV), o pacote de vacinas Meningite ACWY (que previne contra a meningite e infecções causadas pela bactéria meningococo dos tipos A, C, W, Y), além do esquema vacinal da infância e outros poderão ser realizados ou atualizados com doses extras.

Vanessa ressalta que as coberturas vacinais estão baixas desde 2021, daí a importância de recuperar esses patamares para garantir proteção para a população, especialmente crianças e adolescentes.

“É muito importante considerarmos evitar adoecimentos e internações por essas doenças, pois elas podem levar a criança e o adolescente a óbito, sendo, assim, um risco não só para a comunidade, mas uma questão de saúde pública”, disse, salientando que “a vacina é o meio mais eficaz de prevenir essas doenças”.

ATO DE AMOR

Valentina Pinheiro nem completou dois anos e já está com o calendário vacinal em dia. Sua mãe, a servidora pública da Alece Carmem Ciene, aproveitou a campanha para realizar mais uma atualização.

“Sempre fiz questão de que as vacinas da Valentina fossem aplicadas no período certo, porque acho que isso é importante para a construção não só de sua saúde, mas também de sua cidadania”, reflete.

O “compromisso social” com a vacinação, para Carmem, é o que abre a possibilidade de erradicação das doenças. Ela considera que, se todos aderem, é possível erradicar doenças, citando o caso da varíola como exemplo.

“Eu sei que é muito ruim ver nossos filhos com medo de tomar uma injeção, mas sei também que a ideia de que o que está sendo aplicado pode salvar a vida deles e de outras pessoas faz com que esse momento desagradável mais pareça um ato de amor, tanto a eles como ao próximo”, alerta Carmem.

LEIS DE ESTÍMULO À VACINAÇÃO

No âmbito de suas competências, o Parlamento estadual tem buscado cada vez mais reforçar a importância das imunizações para a saúde da população cearense, assim como estimular ações que despertem nos cidadãos essa responsabilidade.

Uma das propostas de destaque partiu do deputado Diego Barreto (PTB) e foi sancionada como Lei Estadual 17.696,de 28 de setembro de 2021. A legislação institui a Semana Rodolfo Teófilo de Incentivo à Vacinação no âmbito das escolas públicas do Estado. A Semana Rodolfo Teófilo acontece anualmente na segunda semana do mês de junho e visa promover atividades de conscientização na comunidade escolar sobre a importância da imunização no combate às mais variadas doenças.

Diego Barreto considera que, em alguns segmentos da sociedade, a vacina ainda é vista com certa incredulidade, “merecendo ainda campanhas de esclarecimento que conscientizem as pessoas de sua eficácia e confiabilidade científica”. Ele observa que essa "incredulidade" foi bastante evidenciada durante a pandemia de Covid-19.

Já a Lei 16.929, de 9 de julho de 2019, também partiu de uma proposta parlamentar, dessa vez do deputado Guilherme Landim (PDT), e trata da obrigatoriedade da apresentação do cartão de vacinação no ato da matrícula escolar. A medida em questão obriga a apresentação da carteira de vacinação no ato da matrícula e rematrícula escolar de alunos com até 18 anos de idade em todas as instituições de ensino do território estadual, da rede pública e privada, que ofereçam educação infantil, ensino fundamental ou ensino médio.

Ainda conforme o texto da lei, a carteira de vacinação deverá estar atualizada, em consonância com o disposto nos calendários de vacinação da criança e do adolescente e disposições do Ministério da Saúde e da Secretaria da Saúde do Estado.

O Dia Estadual de Imunização, celebrado em 9 de julho no Ceará, foi estabelecido na Lei 16.897e tem por finalidade sensibilizar a população de que a imunização é um instrumento necessário para a prevenção de doenças. A iniciativa foi proposta pela deputada Érika Amorim (PSD). Para ela, a medida pode “contribuir com a ampliação das ações para a erradicação e controle dos riscos de transmissão de certas doenças que podem ser prevenidas com a vacina”.

SERVIÇO

Em Fortaleza, a imunização contra pólio acontece nos 116 postos de saúde da capital, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h30. Até 9 de setembro, os postos estarão envolvidos também na campanha para atualizar as carteiras vacinais de crianças e adolescentes.

PE/CG/LF

 


 

 

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