Setembro Amarelo - Campanha estimula a busca por ajuda
Por Geimison Maia18/09/2023 11:42 | Atualizado há 1 ano
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Estresse, sobrecarga de trabalho, dificuldades financeiras, conciliação de múltiplas atividades, privação de sono. Essas são apenas algumas das muitas causas que podem levar ao sofrimento mental e adoecimento. Junte-se a isso o preconceito com o tema e as dificuldades de conseguir ajuda especializada.
Essa soma de fatores leva a um cenário difícil e muitas vezes impossível de superar, chegando até o mais extremo dos atos: o suicídio. Sim, apesar dos tabus que cercam o tema, é preciso entendê-lo a fim de elaborar políticas públicas eficazes.
Para dar mais visibilidade a esse assunto, existe, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo, que em 2023 tem como mote “Se precisar, peça ajuda”. Organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina, ela mobiliza entidades de todo o País com o objetivo de prevenir o suicídio e conscientizar sobre a necessidade de cuidado com a saúde mental.
E a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) mais uma vez abraça a causa com a realização de uma série de atividades, tanto internamente quanto em diálogo com a sociedade, para estimular a prevenção do adoecimento e a elaboração de políticas públicas e leis que contribuam para o desenvolvimento de ações na área da saúde mental.
A primeira-dama da Casa e idealizadora do Comitê de Responsabilidade Social (CRS) da Alece, Cristiane Leitão, informa que, durante o Setembro Amarelo, a Casa realiza ações de “conscientização para a prevenção ao suicídio, expondo a importância de organizar os pensamentos, manejar as emoções e entender que existe apoio especializado para as pessoas que estejam em momento de aflição”.
Segundo ela, a criação do CRS em 2021 possibilitou que o Parlamento cearense passasse a “oferecer serviços voltados para o cuidado com a saúde mental”. Cristiane Leitão cita, como um dos exemplos, a abertura da Célula de Saúde Mental e Práticas Sistêmicas Restaurativas na Alece. Inicialmente proposta a partir de conversas com os servidores e observação de aumento de casos de adoecimento, atualmente ela tem uma atuação expandida para fora da Alece. “Hoje a célula atua na promoção do bem-estar e qualidade de vida, por meio de ações que envolvam não somente os funcionários da Alece, mas toda sociedade cearense”, contextualiza.
SAÚDE MENTAL E PRÁTICAS SISTÊMICAS
A Célula de Saúde Mental e Práticas Sistêmicas foi também criada em 2021. De acordo com a psicóloga da célula, Carina Diógenes, há três eixos de atuação: servidores, governança e gestores, conforme ela explica no áudio abaixo:
“Quando a gente ouve a palavra saúde mental, imediatamente as pessoas associam a adoecimento. E não é. Se a gente pegar o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza, a saúde mental é o bem-estar global do ser - físico, emocional, espiritual e social”, explica Carina.
Outro ganho para os servidores e seus dependentes foi a ampliação do Plantão Psicológico, a partir de uma articulação entre as células de Saúde Mental e de Psicologia. O atendimento passou a ser feito todos os dias. Há também a realização de rodas sistêmicas semanais para trabalhar diversas temáticas com os servidores. A participação é aberta a todos e os encontros ocorrem às quartas-feiras à tarde e às quinta-feira pela manhã. A temática de cada roda é divulgada por meio dos canais da Comunicação Interna da Alece.
A Alece tem investido ainda no treinamento dos servidores para atender melhor a sociedade e usar uma comunicação não violenta. Segundo Carine Diógenes, a ação foi realizada com os funcionários do DSAS e, após o Setembro Amarelo, será expandida para outros setores. Outra parceria do núcleo é para a realização do projeto Em Rodas de Biblioterapia, coordenado pela servidora e biblioterapeuta da Alece, Jacqueline Assunção. E em agosto foi lançado o Afetos Literários, no qual uma estante itinerante percorre os prédios da Casa.
A célula tem uma participação ativa em ações voltadas para a sociedade, tanto no Setembro Amarelo como ao longo do ano. Uma delas é a Oficina Despertar, criada em 2021 e voltada a discutir a prevenção do suicídio nas escolas públicas do Estado, utilizando a “Cartilha Despertar” desenvolvida pela equipe de psicologia da Alece e publicada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento do Estado do Ceará (Inesp) - e agora uma parceria para trabalhar com jovens aprendizes do programa Primeiro Passo, da Secretaria da Proteção Social (SPS).
Ainda nessa perspectiva, há também o Cine Alece, em que adolescentes de escolas públicas assistem a uma sessão de cinema com obras que abordam temáticas como síndrome de Down, gênero e diversidade, prevenção ao suicídio, entre outras. Após a exibição, é realizada uma roda de conversa para aprofundar o conhecimento sobre o assunto retratado na obra. Entre 1.500 e 2 mil alunos já participaram do projeto.
Além disso, a célula também promove momentos de educação continuada de forma on-line, atendendo a convites da sociedade, de outros órgãos públicos e de universidades.
Na avaliação de Alessandra Silva Xavier, professora fundadora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), ações como essas no ambiente de trabalho e nas escolas são fundamentais, “para que seja possível a identificação da existência de sofrimentos psíquicos graves, a fim de que recebam a ajuda multidisciplinar a tempo, de forma adequada e contínua”.
NÚMEROS DE OCORRÊNCIAS NO CEARÁ
Ao longo da última década, o Ceará teve um aumento de 27,6% na taxa de suicídio - passando de 5,8 óbitos/100 mil habitantes em 2010 para 7,4 óbitos/100 mil habitantes (ver gráfico abaixo). É o que aponta o Boletim Epidemiológico “Mortalidade por Suicídio e Notificação por Lesão Autoprovocada”, divulgado pela Secretaria da Saúde do Ceará em 2022.
Arte: Núcleo de Publicidade da Alece
Nele, é possível perceber ainda uma grande diferença nas taxas, a depender do gênero. Em 2021, por exemplo, a taxa de mortalidade entre as mulheres foi de 2,9 óbitos por 100 mil pessoas, enquanto que entre os homens ela salta para 12,2 óbitos por 100 mil pessoas. A professora Alessandra Xavier aponta algumas explicações para essa discrepância no áudio abaixo:
Segundo a docente, é possível estabelecer diferenças nas motivações para o suicídio também entre as faixas etárias. No idosos, são causas mais presentes a existência de doenças crônicas limitantes, isolamento social e perda de vínculos. Já entre os jovens são observadas questões como violência sexual, bullying, impulsividade, desesperança, uso abusivo de álcool e outras drogas, além de integrar determinados grupos vítimas de preconceitos, como LGBTQIAP+, negros e indígenas.
COMO IDENTIFICAR E PREVENIR
Alessandra Xavier cita alguns indícios que ajudam a identificar uma pessoa em risco para o suicídio:
• Verbalização de frases pessimistas como “seria melhor que eu estivesse morto” ou “seria melhor que eu não existisse”
• Doação de objetos pessoais por pessoas em situação de depressão ou tristeza
• Escrita de mensagens de despedida
• Compra de produtos utilizados para cometimento do suicídio - segundo a OMS, os métodos mais comuns são ingestão de pesticidas, enforcamento e uso de armas de fogo
• Desesperança e falta de objetivos na vida
• Pessoas com oscilações de humor e/ou em estado depressivo grave
• Luto prolongado
• Vítimas de bullying ou violência sexual
• Excesso de impulsividade
• Pessoas com dificuldades de sono há mais de duas semanas
• Pessoas isoladas socialmente, sem amigos ou suporte da família
• Pessoas em situação de desemprego
• Pessoas vítimas de rejeição, preconceito ou assédio
• Uso abusivo de álcool e outras drogas
• Pessoas com transtornos mentais não tratados
“Todas essas situações não necessariamente significam que a pessoa vai fazer uma tentativa, mas podem compor o que a gente chama de indicativo de risco e que merecem uma atenção mais próxima, um olhar mais delicado e um acompanhamento”, comenta a professora.
Para Alessandra Xavier, é preciso ter uma rede de atenção psicossocial capaz de acolher e cuidar das pessoas com transtornos mentais, conforme avalia no áudio abaixo.
A professora ainda pontua que a prevenção ao suicídio é realizada em três níveis. O primeiro é universal e dirigido a toda a população, por meio de campanhas de conscientização e combate ao preconceito, como o Setembro Amarelo, além de promoção de acesso aos serviços públicos de saúde mental. O segundo nível é o da prevenção seletiva, voltada “a determinados grupos que a gente considera que estão em risco por serem vulnerabilizados”. E o terceiro é a adoção de estratégias de prevenção a pessoas que já apresentam um comportamento de risco.
Esta é a primeira de uma série de matérias sobre o Setembro Amarelo realizada pela Agência de Notícias da Alece. Participam dela os repórteres Geimison Maia e Pedro Emmanuel Goes; as editoras Clara Guimarães e Lusiana Freire; o fotógrafo Máximo Moura; a revisora Carmem Ciene e o Núcleo de Publicidade Institucional da Casa.
Confira outras matérias já publicadas no site da Alece relativas às ações da Casa no Setembro Amarelo:
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Edição: Clara Guimarães
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