Solene celebra os 50 anos do templo de candomblé mais antigo em atividade no CE
Por Ariadne Sousa08/07/2025 19:09 | Atualizado há 1 dia
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A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), promoveu, na tarde desta terça-feira (08/07), solenidade em homenagem aos 50 anos do Ilé Ibá Asé Kpósú Aziri, terreiro de candomblé com atuação mais longeva no Ceará. A solenidade atendeu à solicitação do deputado Renato Roseno (Psol) e foi subscrita pela deputada Larissa Gaspar (PT) .
De acordo com o parlamentar, a homenagem destinada ao terreiro se estende também a todas as outras casas e religiões de matriz africana. Renato Roseno lembrou que o direito à manutenção da sua cultura, tradições e costumes foram historicamente negadas às vitimas da escravidão que vinham do continente africano como força de trabalho.
“A literatura brasileira anota as diferentes formas de resistência de comunidades de homens e mulheres escravizadas. Para cultivar seus orixás, para cultivar suas deidades, para cultivar seus ritos, se fazia muitas vezes no segredo das comunidades rurais, no segredo da noite quando aqueles que eram os algozes nesse processo de escravização se retiravam”, destacou o deputado.
Renato Roseno apontou que a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alece recebe, quase que semanalmente, denúncias de formas de intolerância e racismo religioso. Nesse sentido, o parlamentar destacou a necessidade de que a diversidade de crenças seja respeitada. Por fim, o deputado ressaltou que o Ilé Ibá Asé Kpósú Aziri é simbolo de resistência, de sabedoria, e de solidariedade.
Para a deputada Larissa Gaspar (PT), os seguidores da religião são exemplo de força ao enfrentar a intolerância para manifestar sua espiritualidade. “Vocês não são só filhos e filhas de santo, vocês são guerreiros e guerreiras que resistem pelo direito de expressar a sua fé, a sua religiosidade, o seu amor. Então a gente fica muito feliz em ver esse plenário representado pela pluralidade religiosa, pela liberdade religiosa, pelo direito de expressar a nossa crença, a nossa fé”, disse.
A secretária executiva da Secretaria da Igualdade Racial (Seir), Martír Silva, ressaltou que, ao completar meio século, a casa Ilé demonstra sua relevância religiosa e cultural. “Essa instituição merece reconhecimento, porque ela existe por um tempo que demonstra um apego, um zelo, um cuidado e uma funcionalidade permanente”, manifestou.
Na avaliação da secretária executiva da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza, Ticiana Studart, a solenidade se configurou como um espaço de reparação, de reconhecimento do mérito cultural que o povo de terreiro faz. “Os terreiros têm um papel muito importante na sociedade, e por isso mesmo, é papel do poder público reconhecer”, considerou. Ela informou ainda que existe, no âmbito da Capital, um processo de tombamento em reconhecimento da casa Ilé como patrimônio material e imaterial de Fortaleza.
HOMENAGENS

Líder da casa Ilé Ibá Asé Kpósú Aziri, Babalorisa Shell de Obaluaiyê, relembra trajetória do terreiro. Foto: Marcos Moura
Representando os agraciados, o líder do templo, Babalorisa Shell de Obaluaiyê, relembrou a trajetória da casa Ilé Ibá Asé Kpósú Aziri. “Ao longo da nossa história, uma das marcas do Ilé foi levar nossa religiosidade para além dos muros do terreiro, abraçando a comunidade e apresentando para os espaços públicos de Fortaleza alguns rituais e alguns conhecimentos característicos do candomblé”, contou.
Para ele, a homenagem se reveste de um significado que abrange todas as comunidades afrodescendentes do Ceará. Além disso, de acordo com Shell, apesar de todas as dificuldades, nos 50 anos da Casa o sentimento é de que tudo valeu a pena. “Por meio do legado deixado por nossos fundadores nós aprendemos muito e buscamos fazer do Ilé Ibá uma caass que buscou com simplicidade oferecer às pessoas o que de melhor o candomblé tem de enquanto religiosidade afro-brasileira”, declarou Babalorisa Shell de Obaluaiyê.
O professor da Universidade Federal do Ceará Romeu Duarte ressaltou que a instituição demonstra, ao longo das suas sete décadas, a preocupação com a preservação do patrimônio do povo cearense, inclusive com relação às expressões culturais de matriz africanas. Segundo ele, foi realizado um trabalho a fim de incluir o candomblé do Ceará no mapa das manifestações brasileiras.
A lista de homenageados contou ainda com Babalosoin Neri; Babalorisa Ajideyi Santos; Babalorisa Silvio Dantas; Babalasé Lázaro Mozer; Yakekerê Mãe Lu; lya Egbé Nadja; Mário Fundaro; e Cleudo Júnior.
Na mesa da cerimônia, além dos que discursaram, estiveram presentes a coordenadora de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), Helena Campelo; e o coordenador Especial da Igualdade Racial do município de Fortaleza, Isaac Santos.
Assista a integra da solenidade:
Edição: Clara Guimarães
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