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Cacique Pequena aborda no Conexão Assembleia desafios e conquistas dos povos indígenas

Por Gleydson Silva
20/03/2023 11:04 | Atualizado há 2 anos

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Conexão Assembleia conversa com líder indígena Cacique Pequena - Foto: Paulo Rocha

O Conexão Assembleia, da rádio FM Assembleia (96,7MHz), entrevistou, nesta segunda-feira (20/03), a líder indígena Maria de Lourdes da Conceição Alves, conhecida como Cacique Pequena. Considerada a primeira mulher cacique do Brasil, ela falou sobre tradições e os desafios enfrentados pelos povos indígenas e de como mulher conquistar espaços culturalmente ocupados por homens.

Como explicou Cacique Pequena, à jornalista Kézya Diniz, apresentadora do programa, seu nome, Maria de Lourdes da Conceição Alves, comum entre tantas mulheres brasileiras, tem relação justamente com a descriminação sofrida por indígenas, que, por muito tempo, não davam nomes oriundos de suas tradições aos filhos, por necessidade de esconder as raízes.

“Antes, não podíamos abrir a boca e dizer que éramos desse povo tão importante. Por essa razão, nossos pais nos batizavam com nomes de santos. Não tinha nome indígena porque não podíamos abrir a boca e dizer: sou uma Irê, sou uma Jurema, uma Eron, pois mostraria sermos um indígena, e não podíamos ser. Não podíamos dizer que éramos um povo”, revelou.

De acordo com a cacique, apesar dos desafios que ainda precisam ser superados, há alguns anos atrás os indígenas enfrentavam ainda mais dificuldades, com uma segregação forte na sociedade, o que os forçava a perder o reconhecimento como um povo originário.

A líder dos Jenipapo-Kanindé, no município de Aquiraz, lembra de uma pesquisa realizada por universitários que os “identificaram” como povo indígena. “Nós tínhamos coisas para nós muitos comuns que vinham dos nossos antepassados, dos nossos ancestrais. Então, foi através daí fomos descobertos como sendo desse povo Jenipapo-Kanindé, da Lagoa Encantada”, lembrou.

A partir desse reconhecimento como povo originário foi que os Jenipapo-Kanindé lutaram por direitos. Cacique Pequena lembra que, quando foi escolhida como líder, foi a Brasília, pela primeira vez, em 1995, pedir a delimitação do território indígena, mesmo sob descriminação por ser mulher. “Meus próprios parentes diziam que não era papel de mulher ser cacique. Que mulher deveria só parir e viver na beirada do fogo. Mas eu disse a eles que mulher também era gente, tinha força e tinha coragem também de enfrentar o trabalho que o homem enfrentava”, recordou.

A delimitação da terra Jenipapo-Kanindé veio de fato em 1999, e a demarcação em 2011. A cacique ressalta que a luta por outros direitos continua. “Só isso não basta. O que Cacique Pequena quer é a terra homologada, desintrusada e registrada. Tudo isso não é para ela, é para o povo dela, afirma. 

Das outras conquistas da cacique para a terra indígena estão uma casa de farinha, energia elétrica e água, posto de saúde, um Centro de Assistência Social (Cras), uma minipousada, além de uma escola indígena, onde ela aprendeu a ler e escrever.

Para ela, é importante ainda, cada vez mais, falar sobre os povos originários do Brasil. Falar mais sobre o assunto nas escolas e na sociedade, para garantir o devido respeito e direitos. 

Conexão Assembleia é um programa multiplataforma da rádio FM Assembleia (96,7MHz), transmitido pelo canal da Assembleia Legislativa do Ceará no YouTube, às segundas-feiras, a partir das 8h. A produção é veiculada também na TV Assembleia, às segundas-feiras, às 20h30, e fica disponível no podcast da emissora. Basta procurar o canal nas principais plataformas de áudio, como Spotify, Deezer, Apple Podcasts e Google Podcasts.

Edição: Adriana Thomasi

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