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Pesquisador defende na Alece união de esforços para combater o crime organizado

Por Lincoln Vieira
08/04/2025 12:57 | Atualizado há 2 semanas

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Comissão de Direitos Humanos e Cidadania debate o tema Governança Criminal: novas dinâmicas da violência no Ceará - Foto: Érika Fonseca

A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) debateu, na noite dessa segunda-feira (07/04), no Complexo de Comissões Técnicas, o tema “Governança Criminal: novas dinâmicas da violência no Ceará”. 

O encontro foi o primeiro de uma série de quatro a serem promovidos pelo Fórum Popular de Segurança Pública. A palestra foi ministrada pelo doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), jornalista e sociólogo Ricardo Moura. O debate também contou com a participação da doutora e mestra em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), bem como professora Ana Vladia Holanda Cruz, que atua no fórum, e do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC), deputado Renato Roseno (Psol). 

De acordo com o parlamentar, o tema é complexo. Para ele, a desmobilização do crime organizado passa pela unificação das forças de segurança em âmbito nacional. “O fuzil que constrange e mata nas grandes cidades é construído a pelo menos oito mil quilômetros, com uma logística muito sofisticada. Eu divido o tema em cinco pontos, como produção, distribuição, armazenamento, fragmentação e varejo”, pontuou. 

Renato Roseno também atribuiu as dificuldades na segurança pública à “corrosão do Estado” e sugeriu discutir nos encontros posteriores a PEC da Segurança Pública. “É muito preocupante a corrosão do estado nos legislativos, executivos e nos aparatos policiais. Uma das maiores operações afastou quatro desembargadores por venda de sentenças no plantão. Nós estamos propondo ao debate trazer a discussão da PEC da Segurança Pública. Se tem alguma coisa que nacionalizou a governança criminal foi o sistema carcerário”, apontou. 

 

Jornalista e sociólogo Ricardo Moura sugere a criação de rede de sociabilidade para promover a sensação de segurança à população - Foto Érika Fonseca

O palestrante, sociólogo Ricardo Moura, defendeu a união de esforços para combater o crime organizado no Ceará. Segundo ele, um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicado em 2024 recomendou atuação incisiva do Estado no combate à corrupção. “O estudo informou também que as condições econômicas que reduziram homicídios em outros países não foram observadas na América Latina por causa da desigualdade social e da concentração de renda”, salientou. 

O pesquisador defendeu também a punição a maus policiais e o fortalecimento das corregedorias estaduais. Para ele, o Estado tem que garantir os direitos dos presos do sistema prisional. “As corregedorias perdem força facilitando a governança criminal simbiótica entre crime e estado. Policiais sendo presos em operações, e aí vem o conceito estruturante de que o crime está no estado e no mercado”, avaliou.

Ricardo Moura sugeriu ainda a criação de rede de sociabilidade para promover a sensação de segurança à população. De acordo com o jornalista, medidas como o resgate da associação de moradores nos bairros, movimentos de bairros locais, com o engajamento do poder público municipal, e a potencialização da comunicação são caminhos para enfrentar a falta de sensação de segurança.

“A periferia precisa participar, se engajar, separar um tempo na agenda para construir uma governança, bem como ampliar o poder que as comunidades têm de provocar mudanças como a disputa dos jovens contra o crime organizado. Nós precisamos nos organizar a partir do que temos com cada pessoa em um bairro, um embaixador do bairro para identificar os problemas e ainda os grêmios nas escolas”, frisou. 

A doutora e mestra em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Ana Vladia Holanda Cruz ressaltou a importância de debater o combate às drogas por outro viés. “Eu costumo dizer aos profissionais de segurança que as drogas são uma discussão minha enquanto profissional da saúde, e não da militarização”, analisou. 

Foram abordados ainda pelo público temas como reestruturação das políticas de segurança, a formação de facções, politicas de promoção à vida e o interesse do Estado em resolver os problemas relacionados à segurança pública. 

Participaram da reunião integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); Comitê de Prevenção e Combate à Violência (CPCV); do Fórum Popular de Segurança Pública; do Grupo Vozes do Cárcere; do Fórum Cearense de Mulheres; da Associação das Praças do Estado do Ceará (Aspra-CE); do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza; da Jovens Agentes de Paz (JAP); da Cáritas, uma organização da Igreja Católica; da Pastoral Carcerária e trabalhadores da segurança pública. 

Confira abaixo a íntegra do debate:

Edição: Clara Guimarães

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