Solenidade homenageia os povos e as lideranças indígenas do Ceará
Por Ariadne Sousa22/04/2025 19:26 | Atualizado há 2 dias
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A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realizou, na tarde desta terça-feira (22/04), sessão solene em alusão ao Abril Indígena, que marca as lutas e a importância dos povos indígenas do Brasil. Na ocasião, foram ressaltadas as contribuições dos chamados “Troncos Velhos”, como são conhecidas as pessoas mais idosas dos territórios.
O deputado Missias Dias (PT), autor do requerimento que originou a solenidade, destacou que a cerimônia, além de reconhecer a luta dos povos originários, se destina também a exaltar os avanços obtidos por meio dos esforços de cada um daqueles que defendem a causa indígena, inclusive com relação à ocupação de espaços de poder.
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Deputado Missias Dias (PT) presidiu a mesa da sessão solene - Foto: Marcos Moura / Alece
“Aqueles que sempre negaram a história de vocês, aqueles que sempre buscaram assassinar os povos dos seus territórios, que sempre perseguiram, que não reconheceram, eu quero dizer que hoje vocês estão ocupando espaço que sempre foi de vocês, que é o ministério, que é a secretaria, que é a coordenadoria, e isso é muito importante pra história do Brasil”, avaliou Missias Dias.
O parlamentar defendeu ainda a necessidade de avanço nas demarcações dos territórios indígenas. “A gente fica se perguntando, por que é tão difícil você reconhecer, você demarcar um direito que já é de vocês? E aí eu descobri, depois dos estudos e vocês também, e é vergonhoso inclusive, na história do Brasil, a gente ouviu de que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral. É uma vergonha na história dos nossos filhos e das nossas filhas, porque ignora a história dos povos originários do Brasil”, criticou.
Para a secretária dos Povos Indígenas do Ceará, Juliana Alves, a solenidade se reveste de um momento histórico e falou sobre a beleza que as vestimentas e cocares indígenas trouxeram ao Plenário do Legislativo Estadual. “Cada um trazendo a sua beleza, mas os povos indígenas não têm neles somente a beleza dos cocares, dos seus artesanatos, mas tem a sabedoria da sua espiritualidade, da sua encantaria, a proteção que esses povos fazem diante de todo o território”, comentou.
Na avaliação da secretária, o fortalecimento da pauta indigenista passa pela consolidação da presença de representantes legítimos nos espaços de poder. "E nós estamos chegando para avançar e romper com essa estrutura do colonialismo, romper com essas estruturas de que são quem pode estar na política é quem tem dinheiro, de que são quem pode estar na política é quem vem dessa família política ou da família da realeza”, argumentou.
De acordo com o superintendente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), João Alfredo Telles Melo, o Ceará é o único estado do País onde as demarcações de terra estão sendo realizadas, em sua totalidade, com recurso, estruturas e técnicos próprios, por meio do Idace. “Queremos trabalhar muito mais, mas as pessoas precisam compreender que o processo precisa ter chegado na fase de portaria declaratória, que é quando o Ministro da Justiça declara a terra indigerna, apresenta uma poligonal e aí o trabalho de demarcação pode ser feito em campo”, explicou.
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Mestra Cacique Pequena, do Povo Jenipapo-Kanindé, discursou em nome dos homenageados - Foto: Marcos Moura / Alece
HOMENAGENS
Falando em nome dos demais agraciados, a mestra Cacique Pequena, do Povo Jenipapo-Kanindé, afirmou que o momento é de orgulho e celebração. “Hoje eu agradeço em primeiro lugar ao meu pai, o pai criador que fez os céus e a terra, para eu morar em cima e viver. E agradecer à mãe natureza e peço que aos não índios: basta, basta de querer exterminar nosso território, a nossa natureza da onde nós vivemos. Porque indígena é a mesma natureza, é a própria natureza”, declarou.
A cacique conclamou os demais presentes a lutarem pelos direitos dos povos indígenas. “Hoje estou aqui agradecendo todos vocês, tenho o prazer de estar dizendo para vocês: vamos lutar pelo que é nosso, essa Casa é nossa, essa Casa nós podemos dizer que quando precisar de estarmos aqui para falar do nosso direito, nós estamos aqui nessa Casa”, concluiu.
O coordenador regional da CR Nordeste II da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Thiago Anacé, disse que a solenidade representa uma reparação histórica. Ele celebrou ainda os avanços na demarcação de terras no Ceará, que foi de dois para cinco territórios. “Nós temos muito a avançar no que diz respeito à demarcação de territórios indígenas, porque nós temos uma dívida muito grande e lógico que em três anos de gestão não vai dar conta de atender a todas”, ponderou.
Também receberam certificados da Alece Mateus Tremembé; Dijé Tremembé; Lauriane Tremembé; José Itamar Teixeira Barbosa - Itamar Tremembé; Paulinha Tremembé; Mestre Cacique João Venâncio; Zé Chico Potiguara; Maria Helena Gomes; Adriana Tremembé; Erbene Tremembé; Áurea Anacé; Teka Potiguara; e Marlucia Potiguara. A lista de homenageados contou ainda com a pajé Raimunda Tapeba (Povo Tapeba); e o mestre cacique Sotero (Povo Kanindé).
Completaram a mesa da solenidade a orientadora da Célula de Atenção à Saúde das Comunidades Tradicionais e Populações Específicas (Cepop) da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Ana Valéria Escolástico Mendonça; as homenageadas Luisa Nascimento de Melo, liderança Tradicional Tabajara da Serra das Matas, e Andreia Kariri, vereadora de São Benedito; e o vereador de Crateús Pedro Neto (PT-CE).
Confira abaixo a íntegra da sessão solene:
Edição: Geimison Maia
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