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Inserção da biodança nas políticas públicas de saúde é defendida em audiência pública

Por Narla Lopes
17/10/2025 12:52 | Atualizado há 1 dia

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Audiência pública foi realizada nesta sexta-feira (17/10), no Complexo de Comissões Técnicas - Foto: Pedro Albuquerque / Alece

A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), por meio da Comissão de Previdência Social e Saúde (CPSS), realizou, na manhã desta sexta-feira (17/10), no Complexo de Comissões Técnicas, audiência pública em alusão ao Dia Estadual da Biodança. O encontro discutiu a prática integrativa e complementar em saúde (PICs) e sua inserção nas políticas públicas. A iniciativa foi solicitada pela deputada Larissa Gaspar (PT).

A deputada explicou que a biodança tem papel fundamental na promoção da saúde e da qualidade de vida, sendo reconhecida pelo Ministério da Saúde, desde 2017, como uma prática integrativa e complementar em saúde (PIC).

Deputada Larissa Gaspar (PT) - Foto: Pedro Albuquerque / Alece

“A nossa luta é para que esse reconhecimento se realize na prática, porque, apesar de institucionalizada, a biodança ainda não está presente nas unidades de saúde da forma como poderia. Ela tem comprovação científica de eficácia no enfrentamento da ansiedade e da depressão, na melhora da sociabilidade e das relações interpessoais, promovendo também saúde mental, que hoje é uma das maiores preocupações da população”, afirmou.

Larrisa Gaspar destacou ainda que o Dia Estadual da Biodança, instituído pela Lei n.º 18.962, de autoria dela, em 31 de julho de 2024, é celebrado anualmente em 19 de outubro. “Temos procurado fortalecer essa pauta para que a biodança esteja inserida nas políticas de saúde, cultura e meio ambiente, ampliando o acesso da população a essa prática tão importante para o bem-estar e a qualidade de vida”, completou.

DEBATE

Reginaldo Alves, representando a Secretaria Municipal da Saúde, complementou ressaltando que as práticas integrativas e complementares de saúde (PICs) são essenciais para o SUS, atuando com as pessoas em todas as suas dimensões. “É importante fazer parcerias com os grupos que hoje já trabalham com isso e fazer capacitações não só com os trabalhadores, mas com os gestores. Os componentes que a biodança trabalha precisam estar presentes também dentro da gestão, quer seja na Secretaria da Saúde, na gestão da unidade de saúde e no controle social”, explicou.

A representante da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), Magla Holanda, ressaltou que o primeiro passo é escutar as necessidades de quem atua na área, para possibilitar a expansão e o desenvolvimento da biodança em todas as regionais e projetos já existentes.

“Falar sobre a biodança também é falar de movimento, de afeto, de reconexão, não apenas com as pessoas, mas também entre o ser humano e o meio ambiente, que é o que nos sustenta. E nós, enquanto Secretaria do Meio Ambiente, acabamos sendo incluídos nesse trabalho. Creio que ela ensina que cuidar da saúde humana é também cuidar da terra, já que somos parte desse mesmo ecossistema”, comentou.

A pesquisadora Idalice Barbosa, que participou da audiência de forma on-line, destacou os avanços da biodança, mas apontou que ainda há desafios a superar. Segundo ela, é fundamental “aprofundar debates, ampliar pesquisas e construir mapas de evidências científicas, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), para consolidar a inserção dessas práticas nos sistemas públicos de saúde em todo o mundo”.

Diretora da Escola de Biodança do Ceará, Ruth Cavalcante - Foto: Pedro Albuquerque / Alece

A professora Ruth Cavalcante, diretora da Escola de Biodança do Ceará, reforçou que a prática promove o reencontro consigo mesmo e com o outro, melhorando a inteligência afetiva e as relações sociais. Ela destacou a importância de formar facilitadores capacitados.

“A formação de facilitadores leva três anos, para que a pessoa tenha condições de chegar até o outro e proporcionar essa evolução de forma consistente e responsável. Nosso objetivo é abrir espaço para que essas pessoas atuem no SUS e em outros espaços institucionais, garantindo que a prática seja oferecida com consistência e dignidade”, pontuou. 

A diretora Cássia Regina, representando a Escola Comunitária de Biodança (Ecoville), compartilhou a experiência da escola na promoção da biodança em comunidades do interior do Ceará. Ela destacou a importância de fortalecer a identidade comunitária e o engajamento social. “A biodança atua no que está vivo e saudável, potencializando a saúde das pessoas e fortalecendo a comunidade. A prática impacta a vida de grupos vulneráveis, melhora a sociabilidade e contribui para a construção de conselhos locais de saúde, transformando experiências individuais em coletivas”, explicou.

A facilitadora Fabergna Sales trouxe relatos sobre a atuação da biodança no pós-pandemia nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), destacando o papel curativo e de integração comunitária da atividade. Segundo ela, a prática contribui para transformações no estilo de vida, maior adesão aos tratamentos de saúde, fortalecimento do vínculo com profissionais e unidades de saúde, além de atuar como ferramenta de enfrentamento da violência no território.

“A biodança traz uma cultura de paz, amor e afeto, promovendo saúde mental, redução de medicação e melhor qualidade de vida. É uma grande felicidade poder expandir essa prática para toda a rede e para o SUS”, afirmou.

Paciente do CAPS desde 2002, Isabel Cristina Ferreira Pacheco contou que a biodança foi fundamental para romper com o ciclo da depressão e da violência, funcionando como um verdadeiro “remédio” para sua saúde mental. Ela reforçou a necessidade de manter grupos de biodança no CAPS e no SUS. “A biodança foi quem me tirou do fundo do poço. É essencial apoiar esses grupos, que são um espaço de vida e transformação para todos”, defendeu.

Já o padre Rino Bonvini, que atua com comunidades do Bom Jardim, destacou a importância da biodança como prática integrativa de saúde mental e social. Ele ressaltou o papel da espiritualidade e da organização comunitária no fortalecimento da autoestima e do sentido de vida dos participantes, lembrando que a prática chegou à comunidade há quase 30 anos e, desde então, tem promovido transformação pessoal e social.

“A biodança oferece um espaço de acolhida, escuta e cuidado, permitindo que as pessoas se encontrem, se aceitem, se valorizem e desenvolvam uma autoestima saudável. Ela ajuda a romper ciclos de violência, contribui para a autorrealização existencial, acadêmica, profissional e afetiva e conecta cada um à vida e ao amor”, concluiu.

Como encaminhamento do debate, a deputada Larissa Gaspar destacou que serão adotadas ações para dar continuidade à pauta. Entre elas, o envio de ofícios às secretarias municipais e estaduais da Saúde, Meio Ambiente, Educação e Cultura, solicitando a incorporação da biodança tanto como prática integrativa e complementar em saúde (PICs) como ferramenta pedagógica, cultural e de conscientização ambiental. 

A parlamentar também propôs a criação de um grupo de trabalho interinstitucional voltado à promoção das PICs e da biodança, além de diálogo com vereadores para fortalecer a iniciativa nos municípios. Outro ponto sugerido foi o incentivo à formação de profissionais por meio da especialização em biodança oferecida pela Escola Estadual de Biodança, com o objetivo de qualificar a atuação nos equipamentos públicos. Larissa Gaspar ressaltou ainda a importância de manter a biodança no projeto #VemProParque, promovido pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema), e ampliar sua presença em outros espaços públicos.

Também compuseram a mesa da audiência pública Carlos Lopes Bitencourt, representante da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa); Luminic Aurel, representante da Universidade Federal do Ceará (UFC), e Samily Gomes, representando a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE).

Confira a íntegra da audiência pública: 

Edição: Geimison Maia
 

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