Ceará deve exportar um milhão de toneladas de hidrogênio verde para a Europa até 2030
Por Ana Vitória Marques/Geimison Maia24/05/2023 10:17 | Atualizado há 1 ano
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O Hub de Hidrogênio Verde (H2V) que está sendo implementado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) tem a meta de exportar até um milhão de toneladas desse combustível para a Europa em um futuro próximo ‒ o ano de 2030. Essa estimativa é dada pelo secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, Salmito Filho. “O Porto de Roterdã (localizado na Holanda), projeta produzir, até 2030, quatro milhões de toneladas de hidrogênio verde. Desse total, 25% são (para serem produzidos) aqui no Ceará”, afirma.
Entenda o que é o hidrogênio verde
Mas, para garantir essa produção, será preciso antes investir em energias renováveis e na infraestrutura do CIPP. Isso porque é consumida energia elétrica no processo de produção do hidrogênio e, para ele ser considerado verde, é preciso que as fontes utilizadas sejam limpas e renováveis ‒ como a eólica e a solar.
Recentemente, o Governo do Ceará e os Países Baixos assinaram acordos para a criação tanto do Corredor de Hidrogênio Verde (Green Hydrogen Corridor) entre o Porto do Pecém e o Porto de Roterdã, como da Parceria de Portos Verdes (Green Ports Partnership) entre o Ceará e os Países Baixos. “Nós estamos fazendo história para a humanidade. A nossa ligação (entre portos) fará a mudança que o mundo precisa para a descarbonização”, enfatizou o governador Elmano de Freitas durante a solenidade de assinatura.
OPORTUNIDADE ECONÔMICA HISTÓRICA
“Eu diria, sem nenhum exagero, que as energias renováveis e o hidrogênio verde compõem a maior oportunidade da história do Brasil”. É com essa ênfase que o secretário Salmito Filho avalia o potencial que a energia limpa proporciona ao País e ao Ceará.
Ele cita como exemplo que, para produzir um gigawatt (GW) por meio de energia eólica offshore (cujas turbinas são instaladas em alto-mar), a previsão é de um investimento de R$ 10 bilhões. E só no Ceará há 22 projetos desse tipo aguardando licenciamento ambiental, cuja produção estimada é de 56,5 GW.
“Nós estamos falando de aproximadamente R$ 560 bilhões (em investimentos) no Ceará só em eólica offshore”, projeta Salmito. Vale lembrar que também serão utilizadas as fontes eólica onshore (instaladas em terra firme) e solar para produzir o H2V no CE. A perspectiva é de que esses investimentos comecem até 2024, tão logo recebam o licenciamento ambiental.
Além dos parques de energia solar e eólica, há também o investimento que será feito para a instalação do Hub de Hidrogênio Verde no CIPP. Até agora, a soma de valores previstos só em três pré-contratos já selados é estimada em 8 bilhões de dólares. Além disso, o Porto do Pecém deve investir R$ 2,2 bilhões para dotar o terminal de infraestrutura capaz de abrigar os projetos. E somam-se a isso quase 30 memorandos assinados com interessados em se instalar no Hub, com uma projeção de injetar quase 30 bilhões de dólares para a produção de hidrogênio verde no CIPP.
De acordo com Salmito Filho, há projeções que apontam a possibilidade de criar cerca de 100 mil empregos em toda a cadeia produtiva das energias renováveis e do hidrogênio verde.
Indo ao encontro dessa análise, Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e membro da Academia Cearense de Engenharia (ACE), avalia ainda que a chance de o Ceará ser um dos pioneiros na produção do H2V é uma oportunidade histórica.
Além disso, ele lembra que o hidrogênio é só um dos componentes que podem ser produzidos ao longo dessa cadeia produtiva, podendo ainda ser desenvolvidos equipamentos do processo industrial, amônia, aço verde, cimento verde, entre outros.
No áudio a seguir, Jurandir Picanço fala mais sobre esses pontos:
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS NO CE
De acordo com o secretário Salmito Filho, o Ceará reúne condições bastante favoráveis para a produção do H2V, primeiro porque o Estado tem uma localização geográfica privilegiada para a produção tanto de energia eólica quanto solar. A importância disso é que as duas atuam de uma forma complementar, já que a solar tem maior produção durante o dia e a eólica durante a noite. Isso garante uma constância na produção e fornecimento de energia elétrica para a fabricação do hidrogênio verde, reduzindo custos. Outro aspecto geográfico positivo é a proximidade com a Europa, que deverá ser o principal destino do hidrogênio verde produzido no Ceará.
Além disso, o secretário ressalta que o uso de água para a produção de hidrogênio é muito baixo, e o hub vai apostar em água de reúso ou dessalinizada no processo, evitando assim o uso de recursos hídricos de outras fontes, como os açudes e rios espalhados pelo Ceará. “Parece que esse projeto foi feito para o Ceará, porque o consumo de água é mínimo e o consumo de energias renováveis, oriundas do sol e do vento, é máximo”, comemora Salmito Filho.
No áudio abaixo, ele explica um pouco sobre a produção do hidrogênio verde:
O Ceará tem o objetivo também de firmar parcerias com estados vizinhos para a produção do H2V. “O Ceará garante o incentivo de ICMS para a energia renovável para produzir hidrogênio verde aqui e para a energia renovável que venha de estados vizinhos”, salienta Salmito Filho. Segundo ele, o objetivo é estimular a cooperação entre as unidades federativas.
POR QUE O H2V E A EUROPA?
Como não é possível exportar diretamente a energia produzida por fontes renováveis para outros continentes, como a Europa, pois não seria possível instalar linhas de transmissão de energia por conta do oceano, o hidrogênio verde entra em campo pela possibilidade de ser transportado em navios, por exemplo. O secretário Salmito Filho explica um pouco como se dá esse processo e por que a Europa é hoje o principal foco para destino de exportações desse combustível.
Essa série de matérias especiais sobre a produção de hidrogênio verde no Ceará é realizada pela Agência de Notícias da Alece. Na primeira reportagem, foi destacado o evento na Casa para discutir o assunto e a importância de definir uma regulação para o setor. Na próxima matéria, serão apresentados alguns desafios para garantir a concretização desses investimentos
Participam da série os repórteres Ana Vitória Marques e Geimison Maia; os fotógrafos Máximo Moura, Leomar Sousa e Júnior Pio; o videomaker do Núcleo de Mídias Digitais, Odério Dias; a revisora Carmem Ciene e a editora Lusiana Freire. O projeto gráfico é de Alessandro Muratore e Alice Penaforte Muratore e a publicidade é de Ticiane Morais.
Edição: Lusiana Freire
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