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Alece discute estratégias para as políticas de combate à obesidade no CE

Por Ariadne Sousa
30/04/2025 16:54 | Atualizado há 1 dia

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Audiência foi realizada no Complexo de Comissões Técnicas da Alece - Foto: Érika Fonseca / Alece

Entidades e profissionais da área da saúde participaram de audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), na tarde desta quarta-feira (30/04). Entre os temas abordados no debate, destacam-se as políticas voltadas à educação preventiva, assim como democratização de tratamentos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). 

O encontro foi promovido por meio da Comissão de Previdência Social e Saúde, em resposta à solicitação do presidente do colegiado, deputado Alysson Aguiar (PCdoB). De acordo com o parlamentar, cerca de 22% da população está acima do peso e mais de 270 mil cearenses estão em estágio de obesidade mórbida. “Me preocupa também os nossos adolescentes, principalmente aqueles de 10 a 19 anos, nós temos 10% desses adolescentes com obesidade”, detalhou.  

Deputado Alysson Aguiar (PCdoB) foi o autor do requerimento para a realização da audiência - Foto: Érika Fonseca / Alece

O deputado ressaltou a importância de que o tema seja tratado a partir da perspectiva preventiva, inclusive com ações articuladas entre as áreas da saúde e da educação. “A gente tem que trabalhar essa cultura da prevenção a longo prazo, através, logicamente, de políticas públicas de conscientização eficientes”, defendeu. 

Nesse sentido, o cirurgião bariátrico e chefe do Serviço de Cirurgia Bariátrica do Hospital José Martiniano de Alencar, Gláucio Nóbrega, lembrou que a doença é evitável e isso passa pela conscientização nas escolas. “A gente está vendo que, cada vez mais, as crianças estão se tornando adolescentes obesos, e não só adultos, então a gente tem que interferir nesse processo, tem que ter investimento para isso, tem que ter um cuidado especial”, afirmou. 

Apesar disso, o cirurgião esclareceu que a solução pode parecer simples: alimentação adequada aliada a hábitos saudáveis; mas o problema se reveste de uma complexidade ainda maior. “Como a obesidade é uma doença multidimensional, ela tem diversos fatores causais, não é uma causa única que você interfira e resolva. Então é muito mais difícil fazer essa prevenção e tratar”, completou Gláucio Nóbrega. 

TRATAMENTOS 

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Paulo Campelo, as discussões em torno do tratamento da obesidade devem ser feitas com foco na multidisciplinaridade e no combate ao estigma com relação aos pacientes. “A obesidade não é apenas da área da saúde, ela é também social, econômica e educacional”, avaliou. 

“Junto com a sociedade civil, com os profissionais de saúde, com os gestores públicos e com o parlamento, [devemos] construir caminhos possíveis e eficazes. Precisamos promover a saúde, investir na prevenção, garantir tratamento adequado e criar políticas públicas que assegurem o acesso à alimentação saudável e ao cuidado integral com a obesidade, que é sim uma doença crônica e completa”, conclamou o presidente da SBCBM. 

Debate contou com a presença de representantes da sociedade civil - Foto: Érika Fonseca / Alece

O cirurgião bariátrico e chefe do Serviço de Cirurgia Bariátrica do Hospital Geral Dr. César Cals, Rodrigo Babadopulos, pontuou que a abordagem realizada com um paciente obeso necessita de profissionais de múltiplas áreas, e que cada caso tem suas particularidades. “Ninguém aqui, trabalhando sozinho, vai mudar as estatísticas. Um programa de cirurgia bariátrica, muito mais do que levar um paciente até a operação, dá a oportunidade ao paciente de ter contato com todos esses profissionais (psicólogo, nutricionista, endocrinologista)”, ponderou. 

Segundo a presidente da organização Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo Vivancos, existe uma demanda reprimida com relação às cirurgias bariátricas no setor público em todo o País, e, no caso do Ceará, mais de 10 mil pessoas aguardam pelo procedimento. “As pessoas, dependendo da comorbidade que elas têm, porque obesidade envolve mais de 200 doenças associadas, acabam morrendo nessa fila, esperando por algo que elas poderiam ser salvas se elas tivessem tido a oportunidade de ter a cirurgia bariátrica”, alertou. 

Vanessa Pirolo questionou ainda a capacidade de acolhimento dos profissionais que atuam na atenção primária da rede de saúde. “A gente percebe que muitas unidades de saúde, infelizmente, não acolhem essas pessoas com obesidade, e existe um problema muito sério porque, a partir do momento em que falam para a pessoa ‘fecha a boca e faz exercício’, a pessoa não volta para a unidade de saúde e acaba, muitas vezes, desistindo da vida dela”, contou, chamando atenção que o preconceito pode atrapalhar o acesso ao tratamento adequado. 

Com relação à linha de cuidado estadual, que visa um atendimento integral da saúde, desde a atenção básica até a especializada,  a coordenadora da Linha de Cuidado em Obesidade do Hospital Universitário Walter Cantídio, Virgínia Serpa Correia Lima, explicou que o documento foi construído no ano passado com muitos profissionais envolvidos, inclusive ela, assim como psicólogos, nutricionistas, endocrinologistas e cirurgiões. Entretanto, a coordenadora não sabe como a implantação está sendo realizada. 

“Eu tenho hoje uma linha de cuidado que trabalha com Fortaleza, mas eu, de uma maneira institucional, não faço ideia do que está acontecendo no [hospital] César Cals, então é cada um trabalhando no seu lugar”, lamentou. De acordo com Virgínia Serpa, a ideia da linha de cuidado é que todos os serviços do Estado sejam trabalhados de uma forma transversal para que se complementem e o serviço ofertado para os pacientes seja integral. 

Ainda sobre a efetivação da linha de cuidado estadual, a nutricionista e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Carla Soraya Costa Maia, detalhou que a portaria que regulamenta o documento foi publicada no último mês, e que, pela proximidade da data, não deve estar em pleno vigor. 

“A gente precisa de estrutura física, medicamentosa, de tratamento e de cirurgia, a gente vai ter que trabalhar essa questão da linha de cuidado em todos os seus âmbitos, mas a gente precisa intervir. Se a gente não pegar essa geração que está aí se formando, que daqui a pouco vai ser pai e mãe, que vai ter o poder de decisão da compra, eles vão continuar fazendo tudo errado”, argumentou Carla Soraya.

Como resultado das discussões, o deputado Alysson Aguiar anunciou que vai propor um projeto de indicação para que todas as escolas do Ceará tenham psicólogos e nutricionistas voltados ao acompanhamento focado na promoção de hábitos saudáveis. Além disso, será proposta uma nova audiência com a participação da Secretaria da Saúde do Ceará para debater a temática. 

O encontro contou ainda com a participação da presidente da Associação Cearense de Diabéticos e Hipertensos, Natasha Rocha de Alencar; e da presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) Ceará, Cristina Micheletto Dallago. 

Confira abaixo a íntegra da audiência pública:

Edição: Geimison Maia

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