Projeto na Alece prevê inclusão do livro Ainda Estou Aqui nas bibliotecas das escolas estaduais
Por Narla Lopes07/03/2025 10:19 | Atualizado há 2 meses
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O livro Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva, emocionou e conquistou leitores em todo o Brasil desde seu lançamento, em agosto de 2015. Em novembro de 2024, a obra alcançou o topo da lista de livros mais vendidos e populares na Amazon brasileira, desde então permanece entre os dez mais vendidos. Nela, o autor revisita suas memórias e compartilha a trajetória de sua família, marcada pelo desaparecimento de seu pai, Rubens Paiva, ex-deputado federal assassinado durante a ditadura militar.
Agora, a história pode alcançar ainda mais pessoas. A deputada Larissa Gaspar (PT) apresentou à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) o projeto de lei 101/2025, que propõe a inclusão do título nas bibliotecas das escolas estaduais. “Para que a nossa juventude conheça a verdade sobre a história do Brasil”, destacou a parlamentar.
A proposta visa ampliar o acesso dos estudantes ao livro e fomentar discussões sobre cidadania, democracia e memória histórica. O PL estabelece uma série de diretrizes para incentivar a leitura e reflexão sobre os temas abordados, incluindo palestras, debates, rodas de conversa com especialistas e a realização de eventos culturais e literários. Também prevê atividades pedagógicas interdisciplinares e exibições comentadas do filme homônimo – vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional –, seguidas de debates críticos.
Na justificativa do projeto, Larissa Gaspar ressalta a importância do livro na formação crítica dos jovens, uma vez que aborda um dos períodos mais marcantes da história brasileira, a ditadura militar, e suas consequências na vida de milhares de famílias. “A literatura desempenha um papel essencial na educação, e proporcionar aos jovens o contato com narrativas que retratam eventos históricos relevantes é uma forma de enriquecimento cultural e social”, afirmou.
Para o professor Halysson Dantas, doutor em Linguística e consultor educacional, a obra representa um resgate histórico importante, oferecendo uma visão real da perseguição política promovida pela ditadura civil-militar no Brasil, entre as décadas de 1960 e 1970. "Para além das fórmulas já consagradas e batidas dos livros de história, temos um relato contundente: o de um filho cujo pai foi perseguido pela ditadura e de uma mãe que lutou pela busca do corpo do marido — uma luta que ressoa até hoje", afirmou.
Ele ressalta, ainda, que o título tem o potencial de abrir os olhos da juventude para esse período da história brasileira. "Guardadas as devidas proporções, assim como O Diário de Anne Frank retratou os horrores do nazismo sob o olhar de quem os viveu, a obra de Marcelo Rubens Paiva permite que as novas gerações compreendam o impacto real da ditadura militar, não apenas aquilo que é colocado de maneira fria nos livros de história.", explicou.
Dantas também reforçou a importância da iniciativa da deputada Larissa Gaspar. "Nossa democracia ainda é jovem, tem entre 40 e 45 anos, e muitos adolescentes não fazem ideia do que foi a ditadura. O relato, escrito em primeira pessoa, é uma ferramenta poderosa para que desenvolvam senso crítico e formem sua própria opinião sobre a história recente do Brasil", concluiu.
A professora de História e pós-doutora em Educação, Ana Carolina Braga de Sousa, pesquisadora sobre repressão política no Brasil, frisa que a obra permite a reflexão sobre um passado que ainda “dói na carne” e deixa marcas profundas na cultura e sociedade brasileira.
“O acesso ao livro nas bibliotecas escolares possibilita que a juventude compreenda os traços persistentes do conservadorismo, do autoritarismo e da violência que a ditadura militar exerceu – e ainda exerce – na sociedade brasileira e cearense”, pontuou. “Além disso, permite a realização de atividades pedagógicas que ajudem os professores a trabalhar essa memória em sala de aula, dialogando com os alunos sobre aqueles que foram brutalmente perseguidos e assassinados pelo regime", reforçou.
Ana Carolina também destacou que a iniciativa da deputada Larissa Gaspar de incluir o livro nas bibliotecas escolares fortalece o debate sobre direitos humanos e democracia dentro da comunidade escolar.
"Nas escolas, ainda são raros os espaços que garantem um debate verdadeiramente democrático, onde diferentes discursos possam ser expressos sem violência. É fundamental que esse período da história, marcado por vergonha e violência, seja abordado de maneira efetiva nas atividades pedagógicas, garantindo que os educadores não tenham medo de falar sobre o tema e sofram represálias", enfatizou Ana Carolina. Sua pesquisa mais recente, realizada no pós-doutorado, mapeou e registrou biograficamente mulheres cearenses militantes que foram perseguidas ou presas durante a ditadura militar.
ADAPTAÇÃO PARA O CINEMA
O livro Ainda Estou Aqui foi adaptado para o cinema pelo renomado diretor brasileiro Walter Salles, com lançamento oficial nos cinemas brasileiros em 7 de novembro de 2024. O filme alcançou grande sucesso de bilheteria nacional, com mais de 5,37 milhões de espectadores que lotaram as sessões nas 17 semanas consecutivas em que o filme está em cartaz.
A atriz Fernanda Torres, que interpretou Eunice Paiva, mãe do autor e personagem central da narrativa, recebeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria Filme de Drama e foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Esse reconhecimento internacional ampliou ainda mais a relevância da obra, despertando um crescente interesse do público jovem pelo tema.
Com a inclusão dos livros nas bibliotecas, a deputada Larissa Gaspar enfatiza a importância de manter viva a história. “Para que nunca se esqueça e para que nunca mais aconteça, precisamos manter viva a nossa história. O perigo fascista da extrema-direita permanece. Precisamos continuar nossa missão de responsabilizar os culpados. Ditadura nunca mais”, afirmou.
A proposta da deputada também menciona que estados, como Bahia e Piauí, já anunciaram a adoção do livro na rede pública de ensino. “Com a implementação deste projeto, buscamos fomentar um ambiente escolar mais engajado com a história do País e com os valores democráticos, incentivando o aprendizado de forma dinâmica e interativa”, reforçou Larissa Gaspar.
O projeto de lei foi lido em plenário no último dia 20 de fevereiro e segue para análise na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) e demais comissões técnicas de mérito. Caso seja aprovado, o PL será encaminhado para a votação no Plenário. Para virar lei, é necessária a sanção do governador.
Edição: Vandecy Dourado
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